domingo, 27 de setembro de 2009

BISPO DE NAMPULA - D. MANUEL VIEIRA PINTO - continuação

Chegados a Santarém eu e meu amigo José R. percorremos alguns locais da cidade, fazendo tempo até à hora do autocarro que nos levaria ao Cartaxo.
Já no Cartaxo, tratámos de perguntar onde se situava a quinta da famila X, que nos tinha sido indicada a partir de Moçambique.
Aí nos dirigimos e encontrámos um local circundado por um muro , cuja entrada era feita por um portão senhorial que se encontrava encerrado. Batemos e pouco depois um empregado da casa abria-nos a porta. Dissémos que desejávamos falar com o dono ou dona da casa. Dissémos igualmente que trazíamos uma mensagem de Nampula para entregar. O empregado retitou-se e algum tempo depois, veio uma senhora que nos cumprimentou amávelmente e nos convidou a entrar. Uma vez lá dentro, o meu amigo informou dos fins que ali nos levavam, ao que a senhora respondeu:
- O senhor Bispo está neste momento a descansar, mas podem entregar-me a carta que lha entregarei. e adiantou:
- os senhores veram meter-se numa grande embrulhada - a minha casa está constantemente a ser vigiada pela policia politica, e neste momento vocês já estarão fotografados, pois eles encontram-se instalados na casa em frente.
E, foi aí, nesse preciso momento que tanto eu, como o meu amigo José R. caímos na realidade que nos rodeava. Chegámos por experiência própria à conclusão de que algo de errado havia neste País que tanto amávamos. Algo que nos impedia de fazer coisas tão simples, como entregar uma carta. Algo que iria ser mudado daí a dias, graças ao glorioso movimento dos capitães.
Conseguimos iludir os PIDES, que pelos vistos ocupavam a vila do Cartaxo. Sem sabermos como, entrámos num autocarro que estava parado e seguimos viagem dali para fora. Só que o autocarro não ia para Lisboa mas sim para as Caldas da Rainha. O condutor aconselhou-nos a sair numa próxima paragem e ali aguardarmos o autocarro para a capital. Era já noite, nada se enxergava à nossa volta. Aguardámos cerca de uma hora e eis que vem um autocarro, esse sim para Lisboa.
Chegados a Lisboa, o meu amigo dirigiu-se para sua casa na zona oriental, e eu tomei o barco no Cais do Sodré, para Cacilhas e daí para Almada onde residia.
No dia seguinte o meu amigo José R., comunicava-me que tinha a porta da sua casa vigiada por um individuo, que segundo ele, deveria ser da policia poltica. Eu, no Arsenal do Alfeite, decerto estaria também a ser vigiado.
Ate que, daí a dois dias, de manhã cedo como habitualmente, saí da minha residência em Almada, na zona do Cristo Rei, e percorri a grande distância que me separava do Arsenal do Alfeite onde trabalhava. Digo grande porque o era, tinha que descer até à Cova da Piedade, e daí continuar até ao Portão da Base Naval de Lisboa, onde se situava e situa o Arsenal. Mas, para surpresa minha, nesse dia a entrada estava impedida por muitos guardas. Ninguém podia entrar e falava-se de que o motivo seria algo que se estava a passar em Lisboa. Algo de muito importante, uma revolução, que iria mudar completamente a maneira de ser e viver dos portugueses e de Portugal. O 25 de Abril estava na rua.

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