sexta-feira, 4 de setembro de 2009

AINDA AS FEIRAS EM ALVALADE - Minhas memórias

Mas voltemos aos dias de feira. Logo que chegávamos à estação da CP, se notava que os dias eram diferentes. As linhas-férreas estavam completamente cheias de vagões, que serviriam para o transporte do gado comercializado na “ corredoura”.
A corredoura, como se chamava ao local onde se concentravam os rebanhos de ovelhas e cabras, as manadas de vacas e bois, as varas de porcos, situava-se à entrada da Vila, antecedida pelo acampamento da “ciganada”. Alvalade era na altura rodeada de extenso olival e era aí, no olival que se faziam os negócios de transacção do gado. Na estrada da estação, os ciganos tentavam vender as suas mulas e burros, correndo com os mesmos para mostrarem que não coxeavam.
Depois, frente à Escola Primária, aí sim – começava a feira. Logo aí ficava o carrossel ou carrosséis, porque por vezes era mais que um, mas geralmente o “Alegria” e o “Vieira”. Depois ao lado destes, o circo, geralmente o Cardinal, Na mesma zona as barracas do tiro ao alvo, ou as barracas das “meninas” como eram chamadas as prostitutas, onde depois do negócio de gados os comerciantes e lavradores se divertiam, entregavam ao prazer carnal e deixavam muitas vezes o resultado do negócio.

Também aí ficava instalado o Poço da Morte, ou o baloiço de roda.
A seguir as barracas de roupas, o pronto a vestir e depois as barracas de brinquedos e quinquilharias, seguidas das louças de barro, cadeiras de buinho, latoaria etc. Mesmo à entrada da feira, ficava sempre instalada a barraca das fotografias à lá minuta. Aí se juntavam as famílias, que só se encontravam nos dias da feira, para tirarem os retratos e ficarem com uma recordação. Deixando o olival e entrando na Vila, situavam-se as barracas dos frutos secos, geralmente na posse de algarvios que aqui se deslocavam, para venderem os figos secos, as amêndoas, as nozes, as alfarrobas e miniaturas de animais feitas de figo. Os pais e mães para não cederem aos pedidos dos filhos, diziam: aquilo não presta, filho! Aquilo é amassado com o cu das algarvias!
Mais acima, já quase na entrada do Largo da República, eram as frutas. As mais procuradas sem dúvida, eram as nêsperas. E recordo aqui o pregão das vendedeiras “ levem-na boa nêspera , meninas”, o que, naturalmente fazia corar as donzelas que passavam.
Entretanto e dado que nessa altura não havia abastecimento de agua, a mesma era vendida na feira pelos “aguadeiros”. Estes eram moradores da terra, que aproveitavam a ocasião para amealharem alguns patacos. O pregão também me ficou nos ouvidos: “agua fresca regalada, dois tostões é uma barrigada”. As crianças percorriam a feira procurando pessoas conhecidas, familiares ou não, pedindo “as feiras”. E logo após os tostões na mão, iam gastá-los nos pirolitos ou no torrão de Alicante.
A feira mudava Alvalade como da noite para o dia. Dezenas de comerciantes visitavam a localidade e o desenvolvimento notava-se nesses dias. As transacções efectuadas durante a feira, eram festejadas à noite, nas tabernas, uma delas a do Vitorino.
Café ? apenas o do Vasco, onde se serviam galões e garotos de boa qualidade. Igualmente nas tabernas se faziam ouvir os melodiosos cantes alentejanos, porem, só até determinada hora, pois a GNR da altura, a mando do regime politico que vigorava, não o permitia.

(continua)

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