quinta-feira, 26 de janeiro de 2012


A propósito de JOSÉ RAPOSO NOBRE

Isto de escrever as nossas memórias, por vezes não é tarefa fácil. Se a principio assim parece, depois as ideias vão-se dissipando e a muito custo, vem ao de cima.

Mas por vezes basta que alguém recorde factos passados para imediatamente se fazer luz e as recordações virem ao de cima.

Isto a propósito do artigo colocado mo “Alvalade.info” administrado pelo conterrâneo e amigo Luís Pedro Ramos, a propósito do grande homem  que durante a vida contribuiu e continua a contribuir com o seu esforço e trabalho, para o desenvolvimento de Alvalade. Refiro-me ao José Raposo Nobre, grande amigo, que tive o grato prazer de acompanhar na vida pública, quase logo a seguir ao 25 de Abril. Anteriormente a esta data libertadora, recordo igualmente o José Nobre, principalmente na sua actividade de empregado de comercio, no estabelecimento comercial dos Sr Inácio Cabrita Cortes, um dos mais importantes da Vila de Alvalade, situado onde hoje se encontra o café “ O  Sitio Certo”.

Mas depois de procurar factos passados, dou por mim a recordar o nosso José Raposo Nobre, na sua condição de autarca. Lembro-me que as reuniões da Câmara eram à sexta-feira e eu, jovem de vinte e alguns anos, desenvolvia actividade na força politica onde militava e continuo a militar – o PCP, embora nesses tempos numa forma de grande actividade. Pertencia então à Comissão Concelhia e as reuniões deste órgão eram igualmente à sexta-feira. Assim, eu aproveitava a “boleia” do José Nobre e chegados a Santiago ele entrava na Câmara e eu ia para a “prisão”. E quando digo isto espero que o admitam como brincadeira, mas a Sede do PCP nessa altura era no antigo estabelecimento prisional de Santiago do Cacém, já na altura desactivado e hoje albergando um dos melhores museus concelhios nacionais.

Ambos íamos para reuniões que em lados opostos da Praça do Município, terminavam madrugada fora. E, numa das ocasiões, não sei bem porque motivo, o Sr. Nobre, talvez com o cérebro saturado dos enormes problemas autárquicos com que se debatia a Câmara Municipal, ou então por ver as portas e janelas da antiga prisão fechadas, deduziu que a minha reunião já teria terminado e eu já tivesse regressado (não haviam telemóveis), veio para Alvalade, deixando-me em Santiago.

Valeu-me então, a boa vontade do jovem amigo  José Pereira, de São Bartolomeu da Serra, hoje Director Financeiro da Câmara Municipal de Santiago do Cacém, que me veio trazer a Alvalade, na sua viatura.

Esta uma das muitas peripécias que preencheram a minha vida de jovem, como a de tantos outros que se empenharam com a força da sua juventude para que fossem criadas melhores condições de vida para as populações . Só que nesta, tive a felicidade de a viver na companhia dum grande Homem, que ainda hoje comigo colabora na vida institucional. Que seja por muitos anos, bom amigo José Raposo Nobre.

domingo, 15 de janeiro de 2012

AS NOSSAS TRADIÇÕES -As Janeiras - Os contratos de Páscoa


Já aqui mencionei uma das tradições que muito me marcaram na infância – o cante das janeiras .  Hoje em Alvalade e anualmente por minha iniciativa e com a participação dos meus queridos utentes do Centro de Dia, alguns já com muitas dificuldades de mobilidade, sai um grupo à rua entoando não as janeiras, mas sim os Reis. A melodia de um e outro cante é idêntica, apenas é alterada a letra.
O meu desejo e daqui faço um apelo aos que se dedicam inteiramente à educação das crianças, sejam os pais e familiares. sejam os professores, para que   incentivem os vossos educandos a que participem nestas actividades tradicionais. Se tal acontecesse não se perderiam estes valores, porque a tradição é a memória dum povo  e cabe-nos a todos contribuir com o nosso empenho para que muitas das tradições não se extingam por completo. Continuo a pensar que a escola seria de certeza o melhor percurso da vida para que estas memórias continuassem a existir.
Vejamos as actividades que felizmente algumas escolas promovem e que tem este fim. Lembremo-nos do Carnaval, com os cortejos trapalhões que se realizam um pouco por todo o lado. Um tanto abasileirado, não sendo difícil incluir quadros tradicionais portugueses nestas iniciativas. Cito como exemplo a Dança de Carnaval, ou como também lhe chamam a Dança das fitas. O Centro de Dia de Alvalade realizou esta actividade durante alguns anos, mas dado que a sua execução é extremamente difícil para pessoas com idade avançada, certamente os jovens conseguiriam ( e estamos certos) com agrado, ensaiarem e apresentarem esta tradição carnavalesca.
Na Páscoa, tenho sempre presente os Contratos de Páscoa. E não tenho dúvidas de que os nossos jovens sensibilizados muito gostariam de participar em mais esta tradição.

Os “Contratos de Páscoa”

é uma das tradições alvaladenses, de que se fala, mas que infelizmente deixou de existir. Se houvesse possibilidade de sensibilizar os nossos jovens para o retomar desta tradição, seria importante. Mas não só os nossos jovens. As pessoas adultas poderão igualmente participar neste tipo de iniciativa, que certamente daria nova motivação à população, neste momento absorvida pelas dificuldades que nos são impostas e que tendem a contribuir para que se fique parado no tempo sem expectativas nem anseios.
O contrato era efectuado entre duas pessoas e em jogo estava um pacote de amêndoas ( antigamente as amêndoas eram vendidas a peso ).
No momento do Contrato os dois contraentes,  davam as mãos direitas dizendo:
“ Contrato, Contrato, Contrato fazemos – No dia de Páscoa oferecemos”.
Estava então celebrado o contrato verbal.
No dia de Páscoa, os dois contraentes tentavam encontrar-se. Corriam as ruas, escondiam-se . O primeiro que avistasse o outro, dizia-lhe – “Oferece e Reza”
E estavam ganhas as amêndoas, combinadas no dia da efectivação do Contrato.
Tornava-se interessante, ver pessoas, jovens e adultas, praticarem um autêntico jogo do “esconde e aparece”.
Seria muito interessante , que, na próxima Páscoa esta nossa tradição fosse relembrada e praticada. Porque não?