domingo, 15 de maio de 2011

PASSADO RECENTE- A Minha Pergrinação a pé a Fatima-2003--2

A MINHA PEREGRINAÇÃO A FÁTIMA, A PÉ (2)

DE S.MARTINHO DE CASEBRES ATÉ CANHA


Seguiu então o grupo de peregrinos, de S. Martinho de Casebres, até Canha, passando por Vendas Novas. Cabe aqui referir que a peregrinação estava bem organizada. Carros de apoio, entre os quais uma carrinha da Casa do Povo de Alvalade, conduzida pelo dirigente Arnaldo Borges. De tantos em tantos quilómetros, pessoal da equipa de apoio, aguardava-nos com agua e distribuição de rebuçados.

Alguns quilómetros percorridos, a nossa companheira Regina Borges, foi acometida de um problema que também a mim, dias mais tarde me havia de acontecer. Estava previsto, a organização havia-nos dito, que durante a caminhada poderíamos ser afectados psicologicamente. E foi o que se passou com a Gina, que não parava de chorar, sem que alguém soubesse a razão de tal facto. Parámos, em determinada altura, para descanso e comermos algumas peças de fruta. Aí, todos nós, demos uma ajuda à Gina, a ponto de, começar a animar-se e no arranque, de novo na estrada, a nossa companheira lá seguiu ainda com maior ânimo, levando consigo o estandarte da peregrinação.

De acrescentar, que durante a caminhada, havia tempo para tudo. Tempo para rezar, tempo para reflectir, no mais completo silêncio, quando se ouviam apenas o bater dos bordões no alcatrão da estrada, tempo para cantar e até para contar anedotas. Em cada paragem, os peregrinos massajavam as pernas com cremes apropriados, descansavam um pouco e depois um tanto ultrapassado o cansaço, lá seguiam para nova jornada.

Atravessámos Vendas Novas e aí, veio-me à memória os tempos que ali passei, no serviço militar. Ali ingressei em 1970, antes de ser mobilizado para a Guiné. A seu tempo relatarei também esses tempos que fazem parte das minhas memórias.



Vista da cidade de Vendas Novas

Depois de Vendas Novas, já ao fim do dia aproximava-nos completamente estafados e com os pés já enfeitados de algumas bolhas, do nosso destino – a Vila de Canha.


Quartel dos Bombeiros V. de Canha

Aí chegados dirigimo-nos ao quartel dos Bombeiros Voluntários, que nos apoiaram, no alojamento. Após o tão desejado banho, dirigimo-nos às instalações da santa Casa da Misericórdia que nos forneceu um reconfortante jantar. Regressados ao quartel , fomos surpreendidos pela presença de um grupo de bombeiros que voluntariamente se dispôs a dar-nos massagens que em muito ajudaram o grupo a prosseguir no dia seguinte.

DE CANHA ATÉ CORUCHE

E, o dia seguinte, igualmente pelas seis horas da manhã, tudo a postos para mais uma etapa e esta bastante longa. Iríamos continuar pelo Ribatejo, de Canha até Coruche, aonde iríamos pernoitar, na Santa Casa da Misericórdia.

E a melhor forma de iniciarmos esta caminhada, foi com muita devoção, enquanto andávamos rezámos o terço. Cada qual pensou nesse momento nos seus problemas, sendo que uma das formas de os ultrapassar residia precisamente nesta devoção, nesta oração, nos cânticos que se faziam ouvir no silêncio dos campos, interrompido apenas com a passagem de viaturas, que nos saudavam com o som estridente dos veículos,

Durante o percurso, fizemos uma paragem debaixo das arvores e foi celebrada a Eucaristia, pelo padre Silveira. Depois, mais animados e confortados, o grupo seguiu a caminho de Coruche. E foi a alguns quilómetros, que também eu, fui acometido de uma crise psicológica, relacionada talvez com a saudade dos familiares, que felizmente ultrapassei e me deu forças para continuar.

E eis-nos chegados a Coruche mais propriamente às instalações da Santa Casa da Misericórdia, situadas numa antiga quinta na várzea fronteira a Coruche.

A Mesa da Misericórdia, havia-nos proporcionado alojamento, num sótão, onde tinham sido espalhados colchões. Um verdadeiro hotel para os caminhantes que nessa altura acusavam já algum cansaço. Após a chegada, realizou-se uma Missa na capela, celebrada por um cónego cujo nome já não recordo. Seguiu-se um jantar servido no refeitório da instituição, após o que recolhemos aos “aposentos” que nos tinham sido reservados.

DE CORUCHE A ALMEIRIM

No dia seguinte, o 9º da caminhada, teríamos de percorrer o caminho de Coruche até Almeirim. Ao nascer do sol o grupo de peregrinos , saiu das instalações da Misericórdia, depois de uma oração conjunta onde agradecemos e desejámos as bênçãos de Deus e de N. S. de Fátima para quem tão bem nos havia recebido – a Santa Casa da Misericórdia de Coruche. Atravessámos a linda Coruche, subindo a encosta até Santo Antonino e daí em direcção a Almeirim, passando por diversas localidades cujos habitantes nos recebiam com muito carinho. De realçar que foi durante este percurso, que avistámos um simbolo, que nos transmitiu uma força interior extraordinária e que nos deu ânimo redobrado - num cruzamento de estradas, uma placa indicava FATIMA. Verdadeira alegria.

À chegada a Almeirim, um incidente marcou a nossa viagem. Um dos nossos companheiros, sentiu-se mal e tivemos de chamar uma ambulância que o transportou ao hospital. Regressou mais tarde restabelecido, mas, creio que não teve condições de saúde para caminhar, tendo feito o percurso num dos carros de apoio. Aqui, ficámos hospedados na Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Almeirim, que igualmente se esmerou na recepção aos peregrinos de Fátima.

DE ALMEIRIM À GOLEGÃ

Dia seguinte, percurso de Almeirim à Golegã, novamente os momentos de oração, de recolhimento, mas também os habituais momentos de alegria partilhada das mais diversas formas. A passagem pelo dique dos vinte foi inesquecível, embora um tanto perigosa, pois a estrada era estreita e as bermas por onde caminhávamos exigia redobrados cuidados. Também na Golegã foi a Santa Casa da Misericórdia quem nos acolheu. Aqui tivemos o grato prazer de ter à nossa espera, o alvaladense José dos Reis com sua família, que de uma certa forma ajudaram a mitigar as já intensas saudades dos familiares. No dia seguinte esperava-nos a etapa até Torres Novas, penúltima até atingirmos o nosso objectivo – o Santuário de Fátima.

(continua)

sábado, 14 de maio de 2011

PASSADO RECENTE-A mimnha Peregrinação a Pé a Fatima-2003 --1

 
















A MINHA PEREGRINAÇÃO A FÁTIMA, A PÉ (1)


Hoje, noite de 12 para 13 de Maio de 2011, resolvi transmitir aqui, algo de que nunca falei e que se prende com a peregrinação a pé, que fiz em 2003, desde a minha Vila – Alvalade, até Fátima.

Em 2002, enquanto decorriam as obras, muito atribuladas, da construção do novo Centro de Dia de Alvalade, em determinado momento e face aos inúmeros problemas que diariamente se deparavam aos dirigentes da Casa do Povo de Alvalade, relacionados com a construção, em plena obra, encontrando-me acompanhado da senhora presidente do Conselho Fiscal, Dª Maria Regina Ferreira Borges, momentaneamente exaltei-me e gritei : “se me vejo livre disto, eu vou a pé a Fátima”, ao que a referida senhora, batendo-me no ombro disse “ e eu vou consigo”! Claro que foi um desabafo, pois sabendo as dificuldades que tal acto acarretava, talvez tivesse pensado mais um pouco.

Passou-se o ano de 2002 e em 2003, aproximava-se o momento da conclusão desta obra que veio engrandecer Alvalade e os alvaladenses. Por intermédio de alguém, tive conhecimento de que a partir de Alcácer do Sal, se estava a planear uma ida a Fátima a pé. Assim que me foi possível, desloquei-me àquela localidade e falei com o Pároco, (creio padre Silveira) senhor já muito idoso , e que ao tempo em que escrevo esta crónica já partiu de entre nós. A partir dele fui colocado em contacto com duas senhoras, uma a gerente do restaurante Boa Viagem (Dª Isabel)e na Câmara de Grândola(Arq. Maria João), principais organizadoras da caminhada. Imensamente simpáticas logo me inscreveram e deram pormenores sobre a “aventura”.

Regressado a Alvalade, contactei o pároco, padre Paulo do Carmo, a quem coloquei ao corrente das minhas intenções, tendo o cuidado de referir que não o faria para pagamento de qualquer promessa, dado que para mim, esse tipo de promessas constituíam chantagem.
O pároco na primeira oportunidade deve ter referido o facto e logo de imediato, se me juntaram, mais cinco senhoras, entre as quais a já citada presidente do Conselho Fiscal da Casa do Povo, Regina Borges. As restantes foram – Graça Mateus, Mariana Loução, Maria José Aires, Mariana Lima, Eugénia Godinho e naturalmente eu Luís Silva. No carro de apoio, acompanhou-nos o marido de Dª Regina, Arnaldo Borges, igualmente dirigente da instituição. Foi este o primeiro grupo de peregrinos a pé a Fátima, a partir da freguesia de Alvalade-Alentejo.

Como tínhamos de nos juntar aos peregrinos de Alcácer do Sal, daí a dias, e já quase em Fátima a um grupo de mais de 800 peregrinos da Arquidiocese de Évora, tivemos que partir de Alvalade alguns dias antes. A partida, foi feita da Praça D. Manuel I, depois de, em cerimónia religiosa, na Matriz, os bordões de peregrinos que nos iriam acompanhar, terem sido benzidos pelo pároco, o qual nos ofereceu a todos um rosário que nos acompanhou.
A partida, na Praça, foi pelas 2 horas da tarde, debaixo de uma temperatura nada animadora e acompanhada de muitas pessoas que solidárias quiseram dizer adeus e desejar-nos felicidades, acompanhando-nos muitas até à Mimosa.

Esta primeira etapa seria de poucos quilómetros, até à aldeia de Azinheira de Barros, onde ficaríamos sob a guarida do Centro de Dia, sendo um dos dirigentes o senhor António Ruas, hoje presidente da Junta de Freguesia daquela localidade. Apesar de ser pequena a distância, quando o grupo chegou à fonte de Ermidas , já era visível o cansaço. Após breve descanso rumámos a Azinheira de Barros, onde após a chegada fomos confortados com um banho refrescante e um jantar maravilhoso. Após a dormida, nos sacos cama, no salão de convívio, no dia seguinte, pelas seis horas da manhã, após o pequeno almoço, rumámos a Grândola, cerca de 15 quilómetros. Aí chegados fomos alojados nas instalações da Santa Casa da Misericórdia, colocadas a disposição do grupo pelo senhor Provedor Horácio Carvalho, que depois do jantar, nos acompanhou na recitação do terço.

Igreja de N. S. dos Mártires - Alcácer do Sal
Terceiro dia , percurso entre Grândola e Alcácer do Sal. Durante o caminho a chuva, em pequena quantidade veio fazer-nos companhia. Também aqui valeu-nos a Santa Casa da Misericórdia que nos alimentou e deu alojamento. No quarto dia foi de descanso e preparação para as diversas etapas, até Fátima. No quinto dia, foi a partida de Alcácer do Sal, na companhia de mais cerca de 50 peregrinos de todas as idades. Foi emotiva esta partida. Feita a partir da Igreja da Senhora dos Milagres, (local por onde segundo se diz, passavam os peregrinos que do sul, se deslocavam a Santiago de Compostela), após cerimónia religiosa, na qual para alem dos párocos de Alcácer, se encontrava igualmente o pároco de Alvalade.

Seguimos então pela estrada que conduz a Lisboa e mais adiante, seguimos em direcção da localidade de Casebres ou mais propriamente de S. Martinho de Casebres, onde ficámos alojados no edifício do Centro de Saúde local. Numa dependência os homens, em sacos cama, noutra as mulheres. Instalações sanitárias eram escassas, pelo que muitos optavam por se servirem do ambiente da natureza, para as necessidades. Além disso, era noite e o escuro ajudava. Foi então que aconteceu o primeiro episódio que contribuiu para a boa disposição do grupo e que merece ser relatado.

Em Casebres, como na maioria das localidades do interior, a falta de assistência médica, era (e é infelizmente, cada vez mais) notória. Pelo que para terem consulta, os habitantes tinham de ir para a porta do Posto Médico, a fim de conseguirem atendimento, bastante cedo, neste caso, pelas 5 horas da manhã. Uma senhora já idosa, assim fez e aí vai ela a caminho da porta do Posto Médico, a fim de conseguir a consulta. Só que nessa altura, uma das peregrinas resolveu sair do edifício a fim de fazer uma “visita” à natureza e assim satisfazer as suas necessidades fisiológicas.

Quando abriu a porta do exterior, em camisa de dormir, a anciã que esperava cá fora, desconhecendo que o edifício estava ocupado pelo peregrinos, desatou a correr e a gritar, que estavam a assaltar o Posto Médico. Com o alvoroço, outros peregrinos acordaram e juntamente com alguns vizinhos, conseguiram acalmar a senhora, contando-lhe a situação. Naturalmente que nesse dia, a alvorada foi mais cedo.

E, após o pequeno almoço, o grupo retomou o caminho, até Canha, passando por Vendas Novas.

(Continua) --