terça-feira, 20 de outubro de 2009

RECORDAÇÕES DO "MONTE" - 1 - O "monte" dos Almargens

Monte dos Almargens - Vale do Sado
Tendo meu pai falecido aos 25 anos, por falta de assistência médica, entendeu minha mãe que teria de actuar com mão de ferro, no que respeita à educação a dar –me e a minha irmã . Minha irmã, nasceu primeiro e quando meu pai (que era pastor na herdade), faleceu, tinha 3 anos. Eu apenas nove meses. Penso que, por ter sido a primeira a vir ao mundo, foi beneficiada com todos os mimos e carinhos, que não sobraram para mim. Assim, a minha educação foi rígida por parte de minha mãe, sendo regulares as tareias por dá cá aquela palha. Costumo dizer que se tive carinhos da parte de meu pai, como é lógico que os tivesse, deles não me recordo. Da parte de minha mãe, nunca me lembro de ter até aos 57 anos, quando ela faleceu, qualquer carinho, embora tenha tido sempre as preocupações e cuidados que uma mãe tem pelos filhos.
O certo é que também ela não sabia o que era o carinho e a presença constante duma mãe. Aos seis anos de idade, foi trabalhar, como empregada doméstica para a herdade.
Assim, a meu ver, minha mãe carente dos carinhos maternos, naturalmente não sabia dar o que não lhe deram a ela, tal como um filho que é criado sem pai, terá dificuldades em, uma vez na situação de pai seguir o exemplo do seu progenitor.. E isto nem sempre é tido em conta pelos filhos, que acusam os pais de não o terem sabido ser.
Aliás, se há coisa que tenha sempre presente, foram as “tareias” que levei da minha mãe, sempre com a ideia de que daquela forma estava a dar-me uma boa educação. Assim à mínima coisa que fizesse a tareia aparecia logo.

Certa vez subi a uma arvore para sacar um ninho. Quando já lã estava em cima, minha mãe apareceu sem que me apercebesse e começou a dizer-me:
-Luís, já cá para baixo!- insistiu ameaçadoramente:
-Já cá para baixo que eu já te ensino a subir às arvores!”
Coitada eu sabia que tudo isso eram as preocupações que tinha comigo, mas na sua ignorância, poderia ter feito com que caísse da árvore dado o receio que me acometia, da tareia que me esperava.
Quando o proprietário da herdade que vivia em Lisboa onde era funcionário do Ministério da Economia – o Sr Armando, assim se chamava - Armando de Sousa Dourado Eusébio – a minha mãe redobrava as suas preocupações e dizia-me logo:
No dia em que vier o Sr Armando, não apareces aqui em casa!
E porquê?
Porque ela não queria que ele me visse com a roupa suja das minhas brincadeiras no “monte”.
E assim, eu deambulava pelos campos, sempre espreitando a ocasião em que deveria voltar para casa.
Quando já na adolescência, minha mãe teve o cuidado de, nas ferias (já estava a estudar em Beja), me fazer trabalhar nos mais diversos trabalhos do campo – para que soubesse dar o valor ao que custava trabalhar no campo.

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