quinta-feira, 15 de outubro de 2009

AS MINHAS MEMÓRIAS - Os ciganos e o cavalo Morgado

A convivência com a comunidade cigana

Quando o lavrador resolvia comprar novos muares, mulas ou cavalos, recorria ao Zé R, que se encarregava de adquirir os melhores exemplares, porque eram para o lavrador. Ainda falando dos ciganos, ainda hoje me causa arrepios só de pensar que aqueles desgraçados para mitigarem a fome, costumavam desenterrar porcos que tivessem morrido havia um dia ou dois, e faziam autênticos festins. Não haviam doenças que os atingissem “ o fogo mata todos os males – diziam eles”.
No entanto nem todos recorriam a este hábito para matarem a fome. E na tenda do Zé R, nem pensar! Aí comia-se bem e ainda hoje recordo aquele feijão aromatizado com funcho que nos deliciava, pois muitas vezes eu próprio comia na tenda do Zé R e da cigana Vitalina.
O cavalo Morgado
Gostaria de falar aqui um pouco do Morgado, porque também ele faz parte das minhas memórias. O Morgado era um cavalo adquirido por intermédio do Zé R,, um lindo animal. Mas tinha um defeito. Quando menos se esperava “embicava” isto é faltavam-lhe as forças nas pernas dianteiras e pumba, caía e muitas vezes caíamos nós também. Certa vez, poder-se-ia ter dado um grande desastre – o Morgado entendeu cair, precisamente numa passagem de nível, quando o comboio já assomava ao fundo da recta, junto ao Monte Novo. Conseguiu-se cortar os arreios a tempo. Também, no dia em que fiz o meu exame da 3ª classe, quando íamos a caminho da Vila, junto à Casa da Guarda da CP, o Morgado resolveu “embicar” e eu, que não ia seguro, passei pelo ar por cima dele e estatelei-me felizmente só com uns arranhões.
Outra mania do Morgado, é que gostava de competir com o comboio. Se seguíssemos numa estrada paralela à via férrea, quando o comboio por nós passasse, o Morgado lançava-se numa corrida doida, a galope, tentando o impossível – ultrapassar o comboio. O resultado é que, com esta mania, mais depressa chegávamos ao destino.
(continua)

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