quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

A MINHA ENTRADA NO MUNDO DO TRABALHO - 1




Quando terminei o curso industrial, ou mais concretamente o curso de formação de electromecânico, no principio dos anos 60, na Escola Industrial e Comercial de Beja, rumei para Almada, onde por intermédio de um familiar que já partiu, ingressei no Arsenal do Alfeite, como aprendiz de serralheiro mecânico.

Nunca concordei com a situação de “aprendiz”, dado que no curso industrial, tal como nos demais cursos ministrados nas antigas Escolas Técnicas, a aprendizagem era exemplar. Nas oficinas colocadas à disposição dos “aprendizes” nada faltava para que se formassem bons profissionais. E, depois de três anos de curso, custa um pouco ingressar no mundo do trabalho com a profissão de “aprendiz” . E se pensarmos que esta categoria era distribuída por aprendiz de 3ª, aprendiz de 2ª e aprendiz de 1ª, maior será a nossa repulsa.

Pois fui admitido como aprendiz de 3ª classe, com o vencimento mensal de 802$00. Tinha na ocasião 17 anos de idade. Outra particularidade que em muito ajudava os jovens aprendizes, é que, com um horário das 8 horas às 15 horas, quando os demais operários iam até às 17 horas. A razão consistia no facto dos jovens estudarem reunindo assim conhecimentos teóricos que aliados aos conhecimentos práticos faziam deles, na generalidade bons profissionais.

No meu caso, saía como tal às 15 horas, e percorria o caminho que me levava do Portão da Romeiras, passando pela Cova da Piedade e subindo depois até, Almada,  à urbanização sobranceira à Lisnave onde residiam os meus familiares que me acolheram em sua casa. Teria pois o tempo suficiente para estudar, preparando-me para, após o jantar, iniciar as aulas na então Escola Industrial e Comercial Emídio Navarro, até às 23 horas.

Ingressei pois naquele estabelecimento de ensino, no 1º ano da Secção Preparatória ao Instituto Indusdrial.Aí permaneci até  a minha ida para o serviço militar obrigatório. Entretanto porque os meus familiares decidiram  adquirir casa própria, passei a residir, primeiramente, junto ao monte do Cristo Rei e mais tarde em dois quartos alugados, perto desse local.

No Arsenal, onde fui como frisei admitido como aprendiz de serralheiro mecânico, na oficia de ferramentas, tive o primeiro contacto com o mundo do trabalho um tanto ou quanto penoso para mim. Como serralheiro mecânico passava todo o horário de trabalho, numa bancada, na frente de um torno, onde se reparava de tudo o que fosse ferramentas de trabalho. A oficina não era grande, mas dava trabalho a cerca de 30 operários, chefiados por dois “mestres”, cijos nomes se a memória não me falha eram Campos e Manuel ? que conhecíamos por “nini”. Eram boas pessoas, embora contactassem com os operários apenas o necessário. De resto permaneciam num gabinete, de dentro do qual, através de uma vidraça seguiam toda a vida da oficina.

Já não consigo recordar-me dos meus colegas de trabalho. Mas lembro-me que na minha frente na bancada, um operário de idade avançada, se entretinha a falar comigo, sobre os mais variados aspectos. Devido a isso, muitas vezes tanto um como o outro eram chamados à razão pois com a conversa esquecíamos o trabalho.

Na oficina, muitos dos trabalhadores viam em mim, o filho de um qualquer agrário alentejano. Embora constantemente os informasse que provinha de trabalhadores agrícolas, quase não acreditavam, pois eles sabiam que as classes rurais tinham dificuldades em darem estudos aos filhos. Atrevo-me até, a afirmar, que por vezes e a principio devem ter pensado que teria ali sido colocado, para ouvir as suas conversas e comentários nada favoráveis ao regime. Levou muito tempo até se convencerem de que tal não correspondia à verdade. Tive e conheci ali grandes amigos. Provavelmente poucos serão vivos.

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