sexta-feira, 6 de novembro de 2009

MINHAS MEMÓRIAS - Minha homenagem ao Toino (António Alvalade)

A MINHA HOMENAGEM AO HOMEM QUE FOI PARA MIM – O PAI DE CRIAÇÃO (como ele tantas vezes dizia)
Cabe aqui recordar a pessoa que para mim foi pai, não biológico, mas na falta deste o verdadeiro amigo e protector. O Toino era portador de um bom coração, um coração generoso e solidário. Se assim não fosse como se compreenderia que tivesse tomado a seus cargo os filhos de um maioral, que faleceu com vinte e cinco anos de idade? Ele os criou, ele os apaparicava, como se seus filhos fossem, ele que nunca casou, nem nunca foi pai, tomou para si o encargo de criar os dois filhos do criado, dando-lhes a educação e ensinamentos que na altura era possível dar, a quem algumas posses tinha. Ele que por esse facto foi praticamente ignorado, incluindo familiares, a quem a palavra solidariedade jamais existiu,. A mim e a minha irmã, mandou-nos para Beja, a fim de estudarmos, na Escola Industrial e Comercial, e aí tiramos nossos cursos secundários..
O Toino morreu, quando eu me encontrava na Guiné ma guerra colonial e minha irmã se encontrava já, emigrante em França .Ainda me recordo de como, a milhares de quilómetros, recebi a notícia. Na Guiné só se conseguia comunicação com o continente, por via telefónica, através da rádio Marconi. E para tal o aviso chegava num dia e a comunicação via telefone, no dia seguinte. E assim, foi, que minha mãe me deu a noticia da morte do Toino. Recebi a notícia e de imediato me fechei no meu quarto e tentei chorar, mas não consegui. Nesse dia comuniquei ao capitão que não me sentia bom de saúde e fiquei na cama todo o dia. Não falei do assunto a ninguém, pois ninguém iria compreender os meus sentimentos. Vivi sozinho esse momento difícil. Recordei então o dia em que, antes de embarcar para a guerra me fui despedir do Toino. Nessa altura vivia ele, não na herdade, mas numa outra, mais pequena, o Valverde, com uma sobrinha. Minha mãe residia na Vila, mas ele, habituado a toda uma vida no campo, preferia viver com a sobrinha. E foi aí, no Valverde, junto à fonte, que eu falei a ultima vez com o Toino. Foi aí que me despedi, com a incerteza de voltar vivo da guerra.

Sem comentários:

Enviar um comentário