sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Memórias de um Alvaladense - I - O Vale do Sado

O Vale do Sado, para muitos habitantes da Sede de Freguesia, desconhecido, estende-se desde Alcácer do Sal, até aos campos do Alto Sado, após a nascente do Rio que lhe dá o nome, na Serra do Caldeirão. Em Alvalade e a partir daqui até aos limites da freguesia, o rio, atravessa campos de regadio, chamados “várzeas” e detendo diversos nomes. Por exemplo nesses limites, é conhecido pela ribeira de S. Romão. São várias as herdades, a partir de Alvalade seguindo para sul, que são banhadas pelo nosso Rio. Conqueiros; Sapa; Monte da Vinha; Valverde;Corredoura;Fontainhas;Monte Novo;Almargens;Retorta;Pasmo, Foros do Vale de Lobo; Defesa e Quinta da Zorra. Aqui, nesta herdade começa a freguesia de Panoias, do concelho de Ourique. As culturas, são predominantemente o milho, o arroz, e já o foram, nos tempos da Empresa de Concentrados de Alvalade- ECA, a cultura do tomate. Vim ao mundo, precisamente numa destas herdades, mais concretamente os Almargens. Aqui nos Almargens, eu nasci em 1948, filho de pai e mãe camponeses. Nos tempos da minha infância, não existia a barragem do Monte da Rocha, em Ourique, pelo que, no inverno o leito do Sado transbordava com muita facilidade, dando origem a grandes enchentes ou “ cheias “ como se chamavam. Após dias e dias de grandes chuvadas, as aguas do rio Sado, começavam lentamente a subir, galgando as margens e fazendo das várzeas autênticos lagos. Os animais surpreendidos pelas aguas eram arrastados. Nos montes os moradores e trabalhadores viam-se impedidos de retomar os seus trabalhos agrícolas e para minguarem as necessidades, entretinham-se a retirar das aguas alguns bens, fruta das hortas, animais como galinhas e patos e um ou outro suíno. Certa vez, o lavrador de um monte vizinho, veio com as suas filhas, ambas num pranto pedir ajuda, pois não se tratava de galinhas ou suínos em perigo, mas sim os bois que estavam quase cercados pelas aguas. E, num ápice, toda a criadagem rumou para o monte vizinho e com paus, cordas e alguns com agua até ao pescoço lá conseguiram salvar os animais. Tempos difíceis aqueles, onde apenas a solidariedade aliviava o sofrimento daqueles que labutavam no dia a dia para ganharem o seu sustento e dos seus familiares.

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