terça-feira, 27 de agosto de 2013

NOS 70 ANOS DA CASA do POVO de ALVALADE - 1943-2013


A minha vida e a Casa do Povo (1)


Quando no inicio da década de 60, com os meus 12 anos de idade, visitei na companhia do meu protetor – lavrador da herdade dos Almargens, o edifício da sede da Casa do Povo de Alvalade, então em construção, estava longe de pensar que parte da minha vida futura estaria ligada a esta instituição. De facto, a partir daí comecei a nutrir pela mesma, uma ligação que se viria a fomentar mais intensa, quando em 1976, ingressei no quadro de pessoal da Casa do Povo de Alvalade. Vivia-se nesses tempos forte movimentação resultante do regime instaurado em 25 de Abril de 1974. As Casas do povo, foram criadas por Salazar e após a revolução eram vistas com grande desconfiança e animosidade. Muitos dos seus dirigentes haviam sido afastados, uns por ligação ao regime ditatorial, outros acusados disso, embora em muitos dos casos tal não se verificasse. Mas a onda saneadora não poupava ninguém, dirigentes e até trabalhadores. Foi assim que muitas se viram sem funcionários e como tal houve que admitir novos trabalhadores. Encontrava-me então a exercer atividade profissional no Arsenal do Alfeite, em Almada, quando pessoa amiga me informou da existência de concurso para novos funcionários da Casa do Povo. Inscrevi-me, na então Junta Central das Casas do Povo e fui presente a concurso de admissão ao lugar de escriturário. As provas foram efetuadas no próprio edifício da instituição e, de entre vários concorrentes fiquei classificado em primeiro lugar, tendo iniciado as atividades em Dezembro de 1976, com vinte e oito anos de idade. Como atrás referi, ser funcionário da instituição, nesses tempos, constituía uma aventura e uma grande incerteza. Mas, lá consegui singrar . Nessa altura a vida da Casa do povo, resumia-se ao serviço de secretaria, no âmbito de regime especial de previdência dos trabalhadores rurais. Atividades socioculturais também. Com a minha juventude, rapidamente me embrenhei na vida associativa. Após algum tempo, foi criado o Grupo de Acão Cultural, constituído por alguns jovens Alvaladenses, que desenvolviam atividades culturais e recreativas. Lembro-me que uma das primeiras iniciativas foi  a realização de um concerto musical, com a Banda da Força Aérea. Devido à recente revolução dos cravos as forças armadas granjeavam o carinho e a admiração das populações, pelo que este facto constituiu um enorme êxito. Curiosamente a grandeza da banda obrigou a que o pequeno palco do salão de festas fosse prolongado até metade da sala, para poder acomodar todos os executantes. Refiro este facto, como uma das primeiras, senão a primeira atividade cultural realizada após a minha admissão na instituição. O que não quer dizer que a seguir ao 25 de Abril de 1974, Alvalade não tivesse assistido a outras realizações de grande valor. Recordo ainda a primeira festa do trabalhador realizada no então “quintal da Rosarinha” como lhe chamávamos e cujo primeiro impulsionador, foi o saudoso  Domingos de Carvalho.

O Grupo de Acão Cultural, iniciou pois a sua atividade na Casa do Povo, organizando um grupo de teatro , cujo primeiro trabalho foi a representação da peça de Alfonso Sartre “A morte no bairro”.

Mais tarde, sob a influência do então pároco padre José Martins Salgueiro, os jovens Alvaladenses começaram a granjear interesse pela história de Alvalade e foi por iniciativa daquele padre que um grupo de jovens entre os quais me incluía, se deslocaram a Lisboa, à Torre do Tombo, a fim  de observarem o original do Foral de Alvalade. E, pode afirmar-se que, graças ao clérigo que nos acompanhava, tivemos nas nossas mãos o secular LIVRO dos FORAIS NOVOS, que se encontrava guardado na casa forte daquele arquivo histórico. Grandes momentos, hoje infelizmente desvalorizados, mas que confirmam a existência em Alvalade ao longo dos últimos anos de pessoas empenhadas no estudo e pesquisa da nossa realidade histórica. E, posso afirmar que a todas estas atividades esteve sempre ligada a Casa do Povo de Alvalade.
(continua)

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