sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

A DIVULGAÇÃO DA VILA DE ALVALADE MAIS POBRE

Ao ter conhecimento de que a partir de Janeiro de 2010, a página alvalade.info deixará de existir, não poderei deixar passar esse anuncio sem deixar aqui um profundo lamento por tal acontecimento, que empobrece ainda mais a divulgação desta freguesia.
Não poderemos esquecer o contributo que a página alvalade.info, deu ao longo dos anos à Vila de Alvalade, levando mais longe o nosso nome e as nossas realidades.
Afirmo, e este comentário é feito pessoalmente, como alvaladense, que dois factores contribuiram de forma relevante para que Alvalade fosse uma localidade mais conhecida, não só no País, como no estrangeiro - Por um lado as comemorações anuais do Foral Manuelino. Por outro lado a existência do www.alvalade.info , que transmitiu a todos os interessados nesta Vila alentejana, toda a sua história, bem como os mais variados temas informativos.
Lamento e lamento igualmente que, a maioria de outras páginas sobre
Alvalade ou instituições, não reconheçam publicamente o valôr e a importância deste meio informativo local, que pelos vistos vai desaparecer.
PESSOALMENTE - Lamento!
Lms

sábado, 28 de novembro de 2009

AS MINHAS MEMÓRIAS E A CASA DO POVO

Resolvi intercalar aqui, por ser oportuno, dado o anúncio da aprovação pelo POPH da candidatura a Lar pela Casa do Povo, assim o exigir. Aliás estas crónicas que resolvi escrever neste espaço, devem ser um misto de factos passados, factos presentes e aspirações de futuro.
Neste contexto entendo por bem, descrever a minha vida de trabalho, ao longo dos anos, desde 1965 quando, após terminar o meu curso industrial em Beja, rumei para Almada, onde ingressei no Arsenal da Marinha, ou Arsenal do Alfeite, como aprendiz de serralheiro mecânico. Dos muitos factos existentes neste período da minha vida, darei conhecimento noutras crónicas. Em 1969 fui incorporado no exército, no CISMI- Centro de Instrução de Sargentos Milicianos em Tavira ( curiosamente entre a gíria militar, o CISMI, era conhecido por Centenas de Indivíduos Sacrificados Martirizados Inocentemente).
Daí rumei depois para a EPSM - Escola Pratica de Serviço de Material (na gíria Entram Parvos Saem Malucos) em Sacavém. Aí “aprendi” a ser mecânico de automóveis em 2 meses. Depois foi Elvas onde em 15 dias fiquei com a carta de condução.
Fui depois colocado na EPA – Escola Pratica de Artilharia em Vendas Novas, já promovido a cabo miliciano. E foi daí que, já com dezassete meses de serviço militar, recebi a guia de marcha para a Guiné, passando primeiro por Chaves e depois por Viana do Castelo e finalmente pelo cais de Alcântara embarcando no navio Carvalho Araújo, com destino à guerra colonial na Guiné. Sobre este período igualmente relatarei em separado os bons e os maus momentos passados na guerra.
Regressado, em 1972 (infelizmente, como tantos outros, sofrendo de stress pós traumático de guerra), voltei novamente ao Arsenal do Alfeite, donde em 1976, saí para a Casa do Povo de Alvalade, após ter efectuado provas que me habilitaram a categoria de escriturário.
E neste relato bastante resumido cheguei à minha ligação com a Casa do Povo, onde, após ter ingressado na função pública ao serviço da Segurança Social, me aposentei antecipadamente em Agosto de 2006.
Hoje continuo ligado à Casa do Povo de Alvalade, como dirigente da mesma. E foi nesta qualidade que, no passado dia 24 de Novembro de 2009, tomei conhecimento de que havia sido deferida a nossa candidatura à construção do Lar para Idosos, uma velha aspiração, felizmente concretizada ou em vias disso. Muito trabalho vai haver ainda pela frente, muitas preocupações, principalmente com o enorme endividamento que a Casa do Povo irá contrair para poder levar por diante a construção deste equipamento social. Alvalade está pois de parabéns. A Casa do Povo de Alvalade, que há poucos anos conseguiu dotar esta localidade de um outro equipamento social – o Centro de Dia, considerado um dos melhores do litoral alentejano, vê agora pela frente a possibilidade de concorrer ainda mais para o desenvolvimento local. Assim Deus nos ajude e a justiça dos homens o permita!

terça-feira, 17 de novembro de 2009

AS MINHAS MEMÓRIAS Os roubos no Monte

OS ROUBOS NO MONTE


As espingardas destinavam-se à caça e não só, também à defesa do “monte” pois os assaltantes de vez em quando, rondavam.
Por vezes a meio da noite, os cães ladravam muito , sinal de que gente estranha por ali andaria. Então o Toino, sem fazer ruído, para não me acordar, saía em roupa interior para a rua, armado da espingarda, a fim de efectuar a sua ronda. O pior era, quando eu acordava e não o via na cama – o medo tomava conta de mim – quem me dizia que, encontrando-se o Toino na rua, os ladrões não aproveitariam a sua ausência para entrarem em casa? E aí o choro irrompia terminando apenas, quando a sua presença se concretizava.
Lembro-me ainda de que, em certa ocasião, sempre às sextas-feiras, roubavam porcos no monte. O esquisito é que era sempre as sextas feiras. O mistério pairava no ar e todos se questionavam quem seriam os ladrões, que tinham todo o tempo, para nas “ quartelhas”, local distante do monte uns 300 metros, onde ficavam os porcos, retirarem os mesmos, carregá-los, sem que se ouvisse quaisquer barulhos ou motores a trabalharem. Possivelmente, os ladroes levavam-nos para um local ermo e distante e aí seriam então carregados para a camioneta. A GNR foi informada, faziam rondas segundo diziam, mas nunca se soube quem eram os larápios. .
Certa vez, minha mãe, acompanhada pela mulher do ovelheiro, passaram já noite fechada junto às quartelhas dos porcos e minha mãe viu dois vultos em cima duma árvore. Para não assustar a companheira que sofria de coração, calou-se e quando chegou ao “ monte”, pegou numa espingarda e aí vai ela, sozinha, determinada a estoirar os miolos a quem estivesse em cima da árvore. Felizmente já lá não estavam, pois caso contrário, minha mãe estaria sujeita a passar o resto dos seus dias numa prisão.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

AS MINHAS MEMÓRIAS - minha espingardinha

A MINHA ESPINGARDINHA

Gostaria de descrever aqui o momento que foi, a minha ultima conversa com o Toino. Posteriormente eu parti para a guerra colonial na Guiné e durante a minha ausência ele partiu. Foi aí, junto à fonte do Valverde, a cerca de três quilómetros de Alvalade, que ele me disse e hoje não existem testemunhas do facto, que a “espingardinha” estava na posse de um familiar e que se eu quisesse a levava comigo naquele preciso momento. Recusei, dizendo que quando regressasse da guerra ele ma daria. Mal sabia eu que isso jamais aconteceria. A “espingardinha” tem história e para que se compreenda, vou tentar resumir a mesma. Na casa do Toino – lavrador – havia uma espingarda de dois canos e cartuchos de 9 milímetros. Essa espingarda havia pertencido a um seu irmão, já falecido, chamado Luís. Foi por isso mesmo, que o meu padrinho, sobrinho do Toino, com o consentimento de minha madrinha resolveram que eu me chamasse Luís. O Toino dizia sempre que aquela espingarda – “a espingardinha” me pertencia. Quis o destino que nunca tivesse ficado com mais essa recordação do Toino. Onde anda a espingardinha?
O Toino está sepultado no cemitério de Alvalade, na rua principal do mesmo, numa campa ornamentada com gradeamento de ferro. A manutenção dessa sepultura tem estado sempre a meu cargo e era meu desejo que depois de mim, os meus sucessores o continuassem a fazer. Esta a minha HOMENAGEM a essa figura muito querida e que jamais poderei esquecer – O Toino – António Alvalade, de seu nome.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

MINHAS MEMÓRIAS - Minha homenagem ao Toino (António Alvalade)

A MINHA HOMENAGEM AO HOMEM QUE FOI PARA MIM – O PAI DE CRIAÇÃO (como ele tantas vezes dizia)
Cabe aqui recordar a pessoa que para mim foi pai, não biológico, mas na falta deste o verdadeiro amigo e protector. O Toino era portador de um bom coração, um coração generoso e solidário. Se assim não fosse como se compreenderia que tivesse tomado a seus cargo os filhos de um maioral, que faleceu com vinte e cinco anos de idade? Ele os criou, ele os apaparicava, como se seus filhos fossem, ele que nunca casou, nem nunca foi pai, tomou para si o encargo de criar os dois filhos do criado, dando-lhes a educação e ensinamentos que na altura era possível dar, a quem algumas posses tinha. Ele que por esse facto foi praticamente ignorado, incluindo familiares, a quem a palavra solidariedade jamais existiu,. A mim e a minha irmã, mandou-nos para Beja, a fim de estudarmos, na Escola Industrial e Comercial, e aí tiramos nossos cursos secundários..
O Toino morreu, quando eu me encontrava na Guiné ma guerra colonial e minha irmã se encontrava já, emigrante em França .Ainda me recordo de como, a milhares de quilómetros, recebi a notícia. Na Guiné só se conseguia comunicação com o continente, por via telefónica, através da rádio Marconi. E para tal o aviso chegava num dia e a comunicação via telefone, no dia seguinte. E assim, foi, que minha mãe me deu a noticia da morte do Toino. Recebi a notícia e de imediato me fechei no meu quarto e tentei chorar, mas não consegui. Nesse dia comuniquei ao capitão que não me sentia bom de saúde e fiquei na cama todo o dia. Não falei do assunto a ninguém, pois ninguém iria compreender os meus sentimentos. Vivi sozinho esse momento difícil. Recordei então o dia em que, antes de embarcar para a guerra me fui despedir do Toino. Nessa altura vivia ele, não na herdade, mas numa outra, mais pequena, o Valverde, com uma sobrinha. Minha mãe residia na Vila, mas ele, habituado a toda uma vida no campo, preferia viver com a sobrinha. E foi aí, no Valverde, junto à fonte, que eu falei a ultima vez com o Toino. Foi aí que me despedi, com a incerteza de voltar vivo da guerra.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

AS MINHAS MEMÓRIAS - Os Malteses - 1 - O Reu-Reu

OS MALTESES-1

O RÉU - RÉU


E que alegria, que felicidade, eu via, no rosto de um pobre que naqueles dias se aproximava do “monte”, pedindo esmola. Os tempos eram difíceis, a miséria era muita e pelos montes deambulavam pessoas, esfarrapadas, descalças, pedindo a esmola de algo com que matar a fome. Chamavam-lhe os “malteses” e eram o terror da criançada entre a qual me incluía. No entanto qualquer um destes homens e mulheres, porque também as havia, eram pessoas de sentimentos, a quem a desgraça e a miséria bateu à porta. Salazar proibia a mendicidade e lembro-me até que, aquando da visita da Rainha Isabel II de Inglaterra a Portugal (década de 50), foram dadas ordens à GNR para prender todos os pedintes pelo País, a fim de se iludirem os ilustres visitantes, com a ideia de que em Portugal, não havia miséria!
Dos malteses que retenho na ideia, menciono dois, que regularmente visitavam o “monte”, pedindo esmola, na casa do lavrador e só nessa casa. Nas casas dos criados, geralmente não pediam. Pedir o quê? A quem também sofria de necessidades?
E, assim, eu recordo Réu Réu e a Mari`Franca.
O Réu Réu, era um mendigo, com problemas psíquicos, homem dos seus 50 anos, mas que aparentava muito menos. As pessoas, dada a sua ignorância, riam-se com as palavras do Réu Réu. Retenho ainda quando se lhe perguntava a idade:
-tenho 50 anos
- e a sua mãe?
- A minha mãe tem 18 anos!
Ou então quando se colocava uma caixa de fósforos no chão e se lhe pedia que saltasse a caixa, respondia:
-Isso é que eu não faço!
- Não fazes? Porquê?
- Era o que faltava! para cair e partir os ossos todos?!
Era assim o nosso Réu-Réu. Desconheço como findou os seus dias, mas não é difícil adivinhar. Em qualquer um barranco, na esquina duma casa abandonada, sei lá. Morreu certamente como um mendigo, abandonado e sem família, como tantos outros por esse Alentejo fora. Recordá-lo é apenas o que nos resta.


MALTESES - 2

A MARI´FRANCA

Agora a Mari Franca. A Mari Franca era o meu terror. Minha mãe, quando me portava mal e não queria usar as mãos como reprimenda, ameaçava-me:
- Olha que entrego-te à Mari Franca!
E eu, imediatamente parava com a diabrura.
A Mari Franca aparecia só de tempos a tempos. Coxeava duma perna e consigo trazia sempre imensos filhos, que a acompanhavam de lugar em lugar. Inválida, não podia trabalhar e para alimentar todos aqueles filhos só tinha uma solução. Pedir de herdade em herdade. Quando se avistava ao longe, todos diziam:
-Lá vem a Mari Franca!
Chegava à rua do “monte”, e parece-me ainda ouvir o cumprimento que fazia a minha mãe:
Atão Bilanja como vai?
E a minha mãe, respondia com o gesto que fazia, quando algum desgraçado batia à porta. Trazia consigo dois ou três pães, um bocado de toicinho e dizia:
-Vá Mari Franca, abre lá o saco!
A minha mãe podia ser muito rude, mas tinha um coração do tamanho do mundo. E, embora não fosse ela a lavradora, tinha todo o à vontade para repartir com os mais necessitados. E dali nenhum pedinte ou mendigo abalava com o saco vazio.
A Mari Franca tinha um defeito, entre muitos. Gostava de lançar a mão ao alheio. E certa vez em que minha mãe tinha os lençóis a “corar” (ao sol a secarem, estendidos na lenha), a Mari Franca ao passar, não esteve com mais aquelas`- lençóis para dentro do saco.
Quando passado algum tempo, minha mãe foi recolhê-los, encontrou lá o lugar dos mesmos. E imediatamente, no seu jeito, disse:
-Magana da Mari Franca, que me roubou os lençóis!
E aí vai ela, no encalço da mendiga e quando a encontrou, disse-lhe:
-Olha lá oh estupor! Então eu com pena de ti, dei-te esmola e tu roubaste-me os lençóis?
A Mari Franca, retorquiu: - Eu Bilanja? Era lá capaz duma coisa dessas?
Não foste tu – disse-lhe minha mãe – quem mais poderia ser? Despeja lá o saco!
E, naturalmente que, de dentro do mesmo, juntamente com o pão e o toicinho, saíram os lençóis.
-Ai Bilanja, tem pena desta desgraçada!
E, a minha mãe, ficava sem palavras, retirava-se levando consigo os lençóis e esquecia tudo.
A Mari Franca mais tarde foi internada num hospício existente perto de Beja, a quinta de S. José. E por lá viveu e morreu. Hoje ninguém fala na Mari Franca, que certamente deve ter filhos espalhados por esse Alentejo.
A minha mãe sabia ser dura e forte, quando era necessário, mas também compreendia as necessidades por que os outros passavam e desta forma ajudou muita gente, que a ela se lhe dirigia. Muitas vezes prejudicando-se a ela e a nós os filhos, para ajudar os outros.
Infelizmente muitos se esqueceram disso, mas a recompensa das boas acções reside na felicidade de quem as pratica e de quem as recebe.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

RECORDAÇÕES DO "MONTE" - 4 - O dia da cozedura do pão

O DIA DA COZEDURA DO PÃO


Cabe aqui recordar o dia especial que era, no monte o “dia de cozedura”.Ainda de madrugada, a minha mãe levantava-se e avisava as outras mulheres de que deveriam começar a amassadura. A partir desse momento com o começo ao mesmo tempo, seria possível a massa estar pronta a mesma hora para entrar no forno. Depois mais tarde, por volta do meio da manhã, as mulheres juntavam-se para carregarem a lenha do “monturo”,(monte de lenha) para o forno. O primeiro forno existente no “monte” , situava-se em plena rua do mesmo, separado das moradias. Mais tarde foi construído outro, na “empena”(esquina) do “monte”. Ao contrario do anterior, dispunha de um alpendre, com dois poiais um de cada lado, onde se colocavam os tabuleiros do pão. Acendido o forno, começava então o “tender”da massa anteriormente “amassada”. O “tender” consistia em moldar-se o pão, colocando-o no tabuleiro de madeira, revestido com um pano alvo chamado “panal”. Depois do forno aquecido, começavam a chegar os tabuleiros. Depois, os pães em massa, a que eram colocados sinais a fim de se tornarem distintos no acto pós cozedura. Colocados dentro do forno, era rezada uma pequena oração. Passado o tempo regulamentar era uma delicia ver a saída do pão, e por vezes quase se realizavam concursos sobre a melhor forma do pão saído do forno

RECORDAÇÕES DO "MONTE" - 3 - A época das ceifas

A ÉPOCA DAS CEIFAS


Gostaria de falar mais um pouco sobre as recordações que tenho do tempo das ceifas. Era de facto um período de grande azáfama. As ceifas do trigo eram feitas por grupos de homens e mulheres contratados no Algarve. Durante cerca de um mês, à volta de Junho ou Julho, aqueles seres humanos viviam como autênticos escravos. Trabalhavam de sol a sol, isto é, desde o nascer do sol, até que o mesmo se pusesse, desaparecendo no poente. À noite, era servido o jantar na rua do monte e quase sempre constituído por sopa de pão com toicinho frito. Depois, lá se aconchegavam na “aramada” onde dormiam os animais, estendidos em cima de sacos de pano. Os molhos de trigo eram então carregados em carros de mulas, para a eira. Aí iam sendo amontoados em “medas”, aguardando a chegada da debulhadora. E passado algum tempo era a chegada da debulhadora. Uma maquina enorme, puxada por um tractor. Começava então a debulha do cereal, o qual ia sendo depositado nos celeiros.
Mais tarde, seria encaminhado cereal para a empresa compradora a Sapec, através do caminho de ferro.
Outro cereal ficava de reserva, a fim de ser enviado para a moagem, na Vila e aí ser transformado em farinha que iria abastecer a casa agrícola durante o ano.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

RECORDAÇÕES DO " MONTE" - 2 - esxperiência de trabalho agrícola

E, numa dessas ocasiões, colocou-me a ajudar a carregar palha, da eira, para a “aramada” (local onde dormiam os muares). A eira ficava no meio da várzea frente ao monte, separada deste, pela linha do caminho de ferro. A palha era transportada de um local para o outro, num carro de mulas, preparado com uma rede. O almocreve com a forquilha, atirava a palha amontoada no solo, para dentro do carro, e o meu trabalho consistia em, lá dentro do carro ir calcando a mesma, com os pés. Claro que, quando o almocreve atirava cá de baixo a palha, a mesma caía-me em cima, e entrava por dentro da camisa, provocando forte irritação no corpo Resultado, cada vez que o carro passava pelo monte, tinha que mudar de camisa, tal a irritação que a palha causava em contacto com o meu corpo. E, a minha mãe, não teve outra solução que não fosse retirar-me desse trabalho, pois não conseguia arranjar as camisas necessárias.
Noutra ocasião, mandou-me apanhar tomate. Nessa altura a cultura do tomate era intensa, haviam grandes lavras de tomate, que era transportado para a Vila, onde estava instalada a ECA – Empresa de Concentrados de Alvalade. Fazia um calor enorme, um daqueles dias em que a temperatura subia a mais de 40 graus. Era de facto um trabalho muito penoso, a apanha do tomate. E a minha mãe lá me mandou “experimentar” esse trabalho. Eu, juntamente com outras pessoas, apanhava o tomate para um balde e daí ia depositá-lo nas caixas de madeira que depois eram transportadas para a fábrica. O calor era sufocante e o “manageiro” ou “capataz” era o meu compadre António Leonor, um homem alegre mas que se preocupava com o facto de eu, não estando habituado à canícula, ter de andar ali juntamente com rancho. E a dada altura, disse-me:
- Oh compadre ( eu era padrinho dos seus netos), você não aguenta este calor, vá embora, vá pró monte!
Claro, que era isso que eu desejava ouvir. E lá abalei satisfeito por me ver livre, daquele trabalho de escravos. Quando cheguei ao monte é que foram elas!
A minha mãe, deu-me uma valente tareia e imediatamente me “recambiou” para a lavra, a fim de continuar o meu trabalho. O meu compadre, coitado lá teve, contrariado que me readmitir.
Mas hoje, sei dar o valor aos trabalhos do campo, embora muitos deles hoje já sejam feitos por máquinas.

RECORDAÇÕES DO "MONTE" - 1 - O "monte" dos Almargens

Monte dos Almargens - Vale do Sado
Tendo meu pai falecido aos 25 anos, por falta de assistência médica, entendeu minha mãe que teria de actuar com mão de ferro, no que respeita à educação a dar –me e a minha irmã . Minha irmã, nasceu primeiro e quando meu pai (que era pastor na herdade), faleceu, tinha 3 anos. Eu apenas nove meses. Penso que, por ter sido a primeira a vir ao mundo, foi beneficiada com todos os mimos e carinhos, que não sobraram para mim. Assim, a minha educação foi rígida por parte de minha mãe, sendo regulares as tareias por dá cá aquela palha. Costumo dizer que se tive carinhos da parte de meu pai, como é lógico que os tivesse, deles não me recordo. Da parte de minha mãe, nunca me lembro de ter até aos 57 anos, quando ela faleceu, qualquer carinho, embora tenha tido sempre as preocupações e cuidados que uma mãe tem pelos filhos.
O certo é que também ela não sabia o que era o carinho e a presença constante duma mãe. Aos seis anos de idade, foi trabalhar, como empregada doméstica para a herdade.
Assim, a meu ver, minha mãe carente dos carinhos maternos, naturalmente não sabia dar o que não lhe deram a ela, tal como um filho que é criado sem pai, terá dificuldades em, uma vez na situação de pai seguir o exemplo do seu progenitor.. E isto nem sempre é tido em conta pelos filhos, que acusam os pais de não o terem sabido ser.
Aliás, se há coisa que tenha sempre presente, foram as “tareias” que levei da minha mãe, sempre com a ideia de que daquela forma estava a dar-me uma boa educação. Assim à mínima coisa que fizesse a tareia aparecia logo.

Certa vez subi a uma arvore para sacar um ninho. Quando já lã estava em cima, minha mãe apareceu sem que me apercebesse e começou a dizer-me:
-Luís, já cá para baixo!- insistiu ameaçadoramente:
-Já cá para baixo que eu já te ensino a subir às arvores!”
Coitada eu sabia que tudo isso eram as preocupações que tinha comigo, mas na sua ignorância, poderia ter feito com que caísse da árvore dado o receio que me acometia, da tareia que me esperava.
Quando o proprietário da herdade que vivia em Lisboa onde era funcionário do Ministério da Economia – o Sr Armando, assim se chamava - Armando de Sousa Dourado Eusébio – a minha mãe redobrava as suas preocupações e dizia-me logo:
No dia em que vier o Sr Armando, não apareces aqui em casa!
E porquê?
Porque ela não queria que ele me visse com a roupa suja das minhas brincadeiras no “monte”.
E assim, eu deambulava pelos campos, sempre espreitando a ocasião em que deveria voltar para casa.
Quando já na adolescência, minha mãe teve o cuidado de, nas ferias (já estava a estudar em Beja), me fazer trabalhar nos mais diversos trabalhos do campo – para que soubesse dar o valor ao que custava trabalhar no campo.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

AS MINHAS MEMÓRIAS - Os ciganos e o cavalo Morgado

A convivência com a comunidade cigana

Quando o lavrador resolvia comprar novos muares, mulas ou cavalos, recorria ao Zé R, que se encarregava de adquirir os melhores exemplares, porque eram para o lavrador. Ainda falando dos ciganos, ainda hoje me causa arrepios só de pensar que aqueles desgraçados para mitigarem a fome, costumavam desenterrar porcos que tivessem morrido havia um dia ou dois, e faziam autênticos festins. Não haviam doenças que os atingissem “ o fogo mata todos os males – diziam eles”.
No entanto nem todos recorriam a este hábito para matarem a fome. E na tenda do Zé R, nem pensar! Aí comia-se bem e ainda hoje recordo aquele feijão aromatizado com funcho que nos deliciava, pois muitas vezes eu próprio comia na tenda do Zé R e da cigana Vitalina.
O cavalo Morgado
Gostaria de falar aqui um pouco do Morgado, porque também ele faz parte das minhas memórias. O Morgado era um cavalo adquirido por intermédio do Zé R,, um lindo animal. Mas tinha um defeito. Quando menos se esperava “embicava” isto é faltavam-lhe as forças nas pernas dianteiras e pumba, caía e muitas vezes caíamos nós também. Certa vez, poder-se-ia ter dado um grande desastre – o Morgado entendeu cair, precisamente numa passagem de nível, quando o comboio já assomava ao fundo da recta, junto ao Monte Novo. Conseguiu-se cortar os arreios a tempo. Também, no dia em que fiz o meu exame da 3ª classe, quando íamos a caminho da Vila, junto à Casa da Guarda da CP, o Morgado resolveu “embicar” e eu, que não ia seguro, passei pelo ar por cima dele e estatelei-me felizmente só com uns arranhões.
Outra mania do Morgado, é que gostava de competir com o comboio. Se seguíssemos numa estrada paralela à via férrea, quando o comboio por nós passasse, o Morgado lançava-se numa corrida doida, a galope, tentando o impossível – ultrapassar o comboio. O resultado é que, com esta mania, mais depressa chegávamos ao destino.
(continua)

sábado, 10 de outubro de 2009

AS MINHAS MEMÓRIAS - A herdade - as feiras - os ciganos

A HERDADE

A herdade ficava quase no extremo do vale do Sado, a partir da sede da freguesia. Era bem uma hora de caminho, a partir desta, geralmente feito pela berma da via-férrea do vale do Sado. Eram cinco quilómetros difíceis de percorrer principalmente para uma criança. A herdade ou o “meu monte” como eu a tratava tinha nessa altura o aspecto contagiante do Alentejo, com todas as características do mundo rural da época de 50. O “monte” de que actualmente, apenas se conhece um amontoado de pedras acabou por ruir, no período a seguir ao 25 de Abril de 1974. Deixou de ter moradores, foi-se arruinando e hoje constitui para mim apenas uma recordação. Por vezes não resisto à saudade e visito o local e é com grande mágoa que deparo com aquelas ruínas, onde nasci em 1948. Ali cada metro de terreno tem uma história, é uma recordação da minha infância. Uma criança que aspirava pelos dias da feira de Abril ou da feira de Julho, quando os terrenos circundantes ao “monte” se enchiam de caravanas de ciganos. Então a magia do dia a dia transformava-se com as dezenas de crianças com quem podia brincar. E tanto que gostava de conviver com elas, criadas de uma forma completamente diferente da minha, a quem nada faltava. Elas que não tendo casa, vivendo a sua vida de nómadas, eram apesar disso tão felizes e sempre dispostos a umas brincadeirinhas. Hoje, gosto dos ciganos, admiro-os e magoa-me ouvir questões ligadas a xenofobia. Como recordo a cigana Vitalina que de ano a ano aparecia na herdade com mais um filho e já eram tantos! E o marido o Zé R. que, logo que acampava, fazia questão de se vestir a preceito, de fato cinzento, para ir cumprimentar o lavrador. E o Zé R. era sempre bem-vindo àquela herdade. Entrava na casa do lavrador, e logo lhe ofereciam uma cadeira para se sentar, e bebia e comia com o lavrador, porque era tido como um cigano de respeito e respeitador. Quando se envolviam em zaragatas, o que acontecia regularmente, logo o Zé R. era chamado a intervir e acalmar os ânimos. Em certa ocasião, devido aos amores de uma cigana por um trabalhador da herdade, foi tal a confusão, que meteu tiroteio e a intervenção da Guarda Nacional Republicana, chamada através da linha telefónica dos caminhos-de-ferro. Mas, dada a distância da Vila à herdade, quando ali chegou a patrulha, os ciganos tinham-se evaporado!
Em determinada ocasião o Lavrador, assim chamado por ser ele quem explorava as terras, por arrendamento, já que o proprietário, como a grande maioria dos proprietários das herdades, residiam longe da freguesia encomendou ao Zé R. um serviço de louça de porcelana. Isto foi num ano e no ano seguinte, eis que chega o Zé R. com a mercadoria. Colocado o caixote de madeira na cozinha, vimos abrir o mesmo e de lá saírem as mais lindas chávenas, pratos, terrinas etc. Naturalmente que, coisas de contrabando.
(continua)

AOS VISITANTES

Certamente já repararam, que algumas das crónicas aqui inseridas, cruzam-se com outras e os temas por vezes são os mesmos. Pelo facto peço desculpa, mas compreenderão que nunca escrevi algo sobre a minha vida. Em certa altura pensei em escrever e guardar os meus escritos, para um dia quando partisse de vez, alguém os ler. Depois, cheguei à conclusão de que seria egoísmo da minha parte, não dar a saber aos interessados, tantas recordações que de uma forma ou de outra, contribuem para a história da freguesia de Alvalade. Essa pois a razão porque criei este espaço, no qual irei inserindo os apontamentos que a memória me permita. Agradeço às inúmeras pessoas que me incentivam a continuar. Peço desculpa por não consentir por enquanto comentários, mas tal facto deve-se a considerar os assuntos muito pessoais. Tentarei igualmente, omitir dentro dos possíveis, nomes de pessoas que comigo conviveram ao longo dos anos, a fim de não as ferir na sua modéstia. Desde já agradeço a vossa compreensão e as vossas visitas e sugiro que outras pessoas criem os seus blogues transmitindo também as suas vivências, que julguem ajudar a compreender melhor as épocas passadas
LMS

terça-feira, 29 de setembro de 2009

AS MINHAS MEMÓRIAS - O pó de arroz da minha irmã

O PÓ DE ARROZ DA MINHA IRMÃ
Que me desculpe a minha irmã, por colocar aqui esta história verdadeira, que devido ao longo tempo já passado desde a sua efectivação, poderá não ser tão verdadeira nos seus pormenores, mas o essencial aqui vai.
Quando fui para a Escola Oficial, já minha irmã, três anos mais velha a frequentava. E também ela ficou entregue aos cuidados de minha tia M. Teresa. A minha irmã sempre gostou muito de se aperaltar, para alem de gostar de fazer das suas. De tal forma, que, estando eu ainda no monte e ela já na Vila a frequentar a escola primária, durante os trabalhos de tiragem da cortiça, um dos trabalhadores, que pernoitava na Vila, a certa altura, foi por mim indagado nos seguintes termos:
-“ Você não conhece lá na Vila, a minha irmã?
Ao que o rapaz respondeu –“ não, não conheço!”
De imediato respondi : “pois olhe se você ver por aquelas ruas uma moça a correr, a correr, olhe é a minha irmã, porque ela é muito doida!”
E pronto na minha inocência estava feita a descrição da minha irmã.
Mas, como dizia enquanto frequentou a escola primária, a minha irmã, logo a principio, estava em casa de minha tia.
E a minha tia, trabalhadora rural, nos tempos do sol a sol, saía de casa muito cedo, para as herdades, onde trabalhava e angariava o seu sustento e da família. Vida de sacrifício, de exploração e atrevo-me a dizer, de escravidão. O meu tio, trabalhava então como sapateiro, na oficina de sapataria, existente na Rua do Posto, propriedade do Sr Garcia. O Sr Garcia contribuiu também em muito para o desenvolvimento de Alvalade, pois esta oficina era das maiores das redondezas e empregava vários operários. Infelizmente, Alvalade, esquece por vezes inadvertidamente estas pessoas que deixaram nome. Enfim!
E então os meus tios saíam para o trabalho e a minha irmã ficava na cama, até á hora em que iria para a escola creio que com minha avó. E, num desses dias, a minha tia, por esquecimento, deixou no quarto, uma caixa com DDT ( pó que servia para eliminar parasitas). A minha irmã, ao levantar-se,sem nada dizer à avó, tratou de fazer a sua “toilette”. E confundindo aquele pó, que ate não cheirava bem, com pó-de-arroz, polvilhou-se toda com o mesmo.
Resultado, foi para a escola e muito senhora do seu nariz, besuntada com o pó DDT. Naturalmente, quem solucionou a questão, deve ter sido a professora, que segundo creio, não posso afiançar, a Dª Judite.
A minha tia, quando regressou do trabalho, informada que foi, só lhe restou confirmar os factos, pois havia DDT espalhado por todo o lado.

AS MINHAS MEMÓRIAS - A minha ida para a Escola Primária

A MINHA IDA PARA A ESCOLA PRIMÁRIA

Antes de completar os sete anos, idade obrigatória para se ir para a escola oficial, minha mãe
mandou-me para a “escola paga”. A “escola paga” era uma espécie de pré-escolar, onde as crianças aprendiam as primeiras letras. Aí sob a orientação da Dª Inês, aprendíamos a escrever em ardósias, a soletrar as primeiras palavras, de forma que, quando ingressássemos na oficial, já íamos instruídos. Grande Senhora foi a Dª Inês, de seu nome completo Inês Faria Ramos, se não estou em erro.. Muito educada, com sentido de responsabilidade, ela ensinava as letras, mas também ensinava as crianças na sua educação. Falta a Alvalade, render homenagem póstuma a esta grande Senhora. A “ escola paga” também era conhecida pela “escola da Dª Inês” e funcionava na Rua de Lisboa. Pagava-se vinte e cinco tostões por semana, mas por vezes a Dª Inês fechava os olhos àqueles que por dificuldades económicas o não podiam fazer. A meio da manhã e a meio da tarde, havia o recreio, e quando o mesmo acontecia, aí iam os miúdos Rua de Lisboa abaixo, até ao Serro do Moinho. Aí brincava-se ao “apanhar”, faziam-se as necessidades fisiológicas, porque, casas de banho não as haviam. Eu ficava na casa de minha tia, meia-irmã de minha mãe.
Quando comecei a ir para a escola primária, de principio ia a pé, pela linha-férrea, e sozinho. Para mim que era um medricas, nem sei como conseguia percorrer os 5 km que distanciavam da sede da freguesia. O receio era enorme, mas lá me fui habituando. Mais tarde, a minha mãe decidiu que seria melhor, pernoitar em Alvalade, na casa da minha tia. E assim foi durante uns anos. Dormia na casa de minha tia e ia jantar numa hospedaria, que era duma senhora chamada Júlia Ramusga ( Peixeira).
Mais tarde compraram-me uma bicicleta a pedal e comecei a ir e vir do” monte” para a escola de bicicleta.

A PRIMEIRA PROFESSORA
Mas aos sete anos, entrei na escola primária. Lembro-me que logo pela manhã, no “monte”, a minha mãe acordou-me, lavou-me e vestiu-me para ir para a escola. Como a mesma tinha o seu início às nove horas, tive que me levantar por volta das sete horas, o que só por si fez com que em nada me agradasse a ideia. Ter que me levantar cedo todos os dias? Fosse de Inverno, com a geada a deixar os campos todos branquinhos, como se tivesse nevado, ou em dias de chuva, ou já no verão sob um sol escaldante. E lá fui para a escola, onde ingressei na 1ª classe. Foi minha primeira professora a Dª Maria Luísa Madeira, natural de Alvalade e que tinha fama de boa professora. Como já vinha preparado da escola paga da Dª Inês, não me foi difícil a aprendizagem e mostrei ser um bom aluno. Passei então a ficar todos os dias na Vila, em casa de minha tia, evitando assim a caminhada de cinco quilómetros que me separavam do monte. As aulas duravam todo dia, das 9 horas ao meio dia e das 13 h às 17 horas. Tanto de manhã como de tarde, havia um intervalo a meio de cada período.
A Dª Maria Luísa Madeira, tinha e ainda tem felizmente uma irmã, a quem ainda há poucos dias saudei. Uma grande amiga, e também muito amiga de Alvalade. Foi grato falar com ela há dias e ouvir da sua boca aquilo que deseja para Alvalade. Se conseguir arranjar força e ânimo, ainda darei o meu contributo para que a sua ideia seja realidade. Por enquanto é segredo.
Mas tive outras professoras, uma das quais não consigo lembrar-me o nome, sei que era casada com ferroviário e morava na estação da Cp.
Lembro-me que o nome era qualquer coisa com o apelido de Barreto. Foi minha professora na segunda classe e na mesma sala dava aulas aos “matulões” da quarta classe. Depois na terceira classe e na quarta classe foi minha professora uma senhora dos Foros de Vale de Lobo, Dª Maria Antónia Peixeiro. Não sei se estas duas últimas são vivas, nem onde residem caso isso se verifique.Eu entendo que os nossos professores ao longo dos anos, principalmente os da instrução primária, deveria ser alvo de homenagem. Mas… um homem sozinho não pode nada!

domingo, 27 de setembro de 2009

26 de Setembro - OS 2 ANOS DO ANDRÉ

Hoje é domingo, dia 27 de Setembro e igualmente dia de eleições legislativas. Encontro-me em casa, pois a minha mulher, Elsa, está a trabalhar na Junta de Freguesia, onde é funcionária e como habitualmente nestes dias tem de trabalhar.
Por isso ocupo o meu tempo escrevendo o que me vem à ideia. A televisão transmite uma reportagem sobre a produção de arroz em Portugal. É mais um rol de queixas, dos responsáveis pela produção daquele cereal, pela forma e pela falta de vontade politica, de quem nos governa em resolver os problemas dos nossos agricultores. Aliás, neste País não são apenas os agricultores a queixarem-se, são todos os sectores, a saúde, a educação,os transportes, o imobiliário, os desempregados etc etc. Hoje muita coisa poderia ser alterada, mas tudo indica que apenas a maioria absoluta vai ser transformada em maioria relativa. A ver vamos.
Ontem, 26 de Setembro o meu netinho André completou o 2º aniversário. O meu netinho é para mim e para a avó Elsa a melhor coisa que nos aconteceu. A nossa vida é em função daquela vida recente que é a do André. A ansiedade do fim de semana e do reencontro com aquele pequenino ser e naturalmente com seus pais é enorme. Há quem diga que os avós têm um comportamento afectuoso, diferente para com os netos, daquele que tiveram em relação aos filhos. Pela minha parte afirmo que isso é verdade e que mais uma vez o filho me perdoe.
Pois, foi a festa do 2º aniversário do André. Quando chegámos a sua casa em Santiago do Cacém, já o nosso neto andava numa roda viva, com os seus amiguinhos e amiguinhas, remexemdo nos muitos brinquedos que possui e noutros que lhe tinham sido oferecidos. A azáfama era tanta, que olhou para nós, com carinho é certo, mas a dizer ao mesmo tempo. "Hoje para além de vós, tenho que ser um bom anfitrião dos meus amigos e amigas" E nós compreendemos perfeitamente a tarefa que o Andre tinha naquele momento.
O telefone entretanto não parava, pessoas felicitando os pais pela data que se festejava. Alguns ausentes noutras paragens nem por isso esqueceram a data. O meu sobrinho Luis Carlos de França foi um deles. Já antes a minha irmã, igualmente em França, o havia feito, pesarosa por não poder estar presente. Mas, , a saúde está primeiro e tu agora precisas muito de encarar a vida como um dom muito precioso e teres contigo uma força do tamanho do mundo para continuares a lutar com a doença. E isso vai acontecer.
O tio Zé Francisco, a prima Marta tambem ligaram bem como a Joana que se encontra a completar o doutoramento na Escócia ( jinhos joana!). Outros familiares que possam ter ligado me perdoem se não os menciono.
Presentes igualmente outros familiares especialmente os avós maternos Gertrudes e Carlos Alberto. A festinha foi abençoada com a presença do nosso priminho e padre Hugo, que, diga-se está um pouco gordinho e a necessitar de exercício fisico.
O André esse, estava feliz e maior foi a felicidade, quando ao colo dos pais(babadinhos) apagou as velinhas do bolo de aniversário.
Enfim, uma linda festa, a do aniversário do nosso André. Que muitos, muitos, muitos mais aniversários sejam festejados para alegria do André e de seus pais Joana e Luis Miguel.
(e dos avós maternos e patermos, também, claro!)

BISPO DE NAMPULA - D. MANUEL VIEIRA PINTO - continuação

Chegados a Santarém eu e meu amigo José R. percorremos alguns locais da cidade, fazendo tempo até à hora do autocarro que nos levaria ao Cartaxo.
Já no Cartaxo, tratámos de perguntar onde se situava a quinta da famila X, que nos tinha sido indicada a partir de Moçambique.
Aí nos dirigimos e encontrámos um local circundado por um muro , cuja entrada era feita por um portão senhorial que se encontrava encerrado. Batemos e pouco depois um empregado da casa abria-nos a porta. Dissémos que desejávamos falar com o dono ou dona da casa. Dissémos igualmente que trazíamos uma mensagem de Nampula para entregar. O empregado retitou-se e algum tempo depois, veio uma senhora que nos cumprimentou amávelmente e nos convidou a entrar. Uma vez lá dentro, o meu amigo informou dos fins que ali nos levavam, ao que a senhora respondeu:
- O senhor Bispo está neste momento a descansar, mas podem entregar-me a carta que lha entregarei. e adiantou:
- os senhores veram meter-se numa grande embrulhada - a minha casa está constantemente a ser vigiada pela policia politica, e neste momento vocês já estarão fotografados, pois eles encontram-se instalados na casa em frente.
E, foi aí, nesse preciso momento que tanto eu, como o meu amigo José R. caímos na realidade que nos rodeava. Chegámos por experiência própria à conclusão de que algo de errado havia neste País que tanto amávamos. Algo que nos impedia de fazer coisas tão simples, como entregar uma carta. Algo que iria ser mudado daí a dias, graças ao glorioso movimento dos capitães.
Conseguimos iludir os PIDES, que pelos vistos ocupavam a vila do Cartaxo. Sem sabermos como, entrámos num autocarro que estava parado e seguimos viagem dali para fora. Só que o autocarro não ia para Lisboa mas sim para as Caldas da Rainha. O condutor aconselhou-nos a sair numa próxima paragem e ali aguardarmos o autocarro para a capital. Era já noite, nada se enxergava à nossa volta. Aguardámos cerca de uma hora e eis que vem um autocarro, esse sim para Lisboa.
Chegados a Lisboa, o meu amigo dirigiu-se para sua casa na zona oriental, e eu tomei o barco no Cais do Sodré, para Cacilhas e daí para Almada onde residia.
No dia seguinte o meu amigo José R., comunicava-me que tinha a porta da sua casa vigiada por um individuo, que segundo ele, deveria ser da policia poltica. Eu, no Arsenal do Alfeite, decerto estaria também a ser vigiado.
Ate que, daí a dois dias, de manhã cedo como habitualmente, saí da minha residência em Almada, na zona do Cristo Rei, e percorri a grande distância que me separava do Arsenal do Alfeite onde trabalhava. Digo grande porque o era, tinha que descer até à Cova da Piedade, e daí continuar até ao Portão da Base Naval de Lisboa, onde se situava e situa o Arsenal. Mas, para surpresa minha, nesse dia a entrada estava impedida por muitos guardas. Ninguém podia entrar e falava-se de que o motivo seria algo que se estava a passar em Lisboa. Algo de muito importante, uma revolução, que iria mudar completamente a maneira de ser e viver dos portugueses e de Portugal. O 25 de Abril estava na rua.
BISPO DE NAMPULA – D. MANUEL VIEIRA PINTO
Factos que ficaram na memória.

Estávamos no ano de 1974. Dias antes da data histórica e libertadora do 25 de Abril, mais propriamente no domingo anterior. Eu era um simples operário metalúrgico do Arsenal do Alfeite. Residia em Almada, num quarto alugado. Era jovem, tinha 26 anos de idade e havia regressado quatro anos antes da guerra colonial na Guiné.
Nunca me havia confrontado com problemas políticos e posso até mesmo dizer que, apesar de alguma revolta interior por terem sido desperdiçados os anos da juventude, numa guerra que nada me dizia e da qual não se vislumbrava o final, o certo é que não desenvolvia qualquer actividade, contra ou a favor do regime existente. Limitava-me a trabalhar, na categoria de serralheiro mecânico, ganhando pouco mais de mil escudos, que mal davam para pagar o quarto, pagar as refeições e comprar alguma roupa a prestações. Tinha consciência de que minha mãe não me poderia valer pois também ela, garantia o seu sustento como trabalhadora rural.
As minhas distracções resumiam-se a um ou outro filme na Incrível almadense, numa ou outra ida a praia, na Caparica e a um passeio ou outro por Lisboa.
Era em Lisboa que tinha um amigo, que ainda o é hoje, e que periodicamente visita a minha casa em Alvalade. Esse meu amigo o José R. trabalhava num escritório de advogados enquanto estudava para ser solicitador, profissão que conseguiu e exerceu. Esteve também na guerra colonial, mas em Moçambique, mais propriamente em Nampula.
O José R. era católico praticante e frequentava a Missão Católica em Nampula, tendo-se tornado grande amigo dos padres e religiosas que ali desenvolviam a sua missão junto da população pobre e explorada de Moçambique. Igualmente aí conheceu o bispo de Nampula, D. Manuel Vieira Pinto, também ele um revoltado contra o sistema que escravizava o povo moçambicano.
Não sei se D. Manuel ainda é vivo, mas se o for, muito gostaria de lhe dar a saber este relato.
Pois, em determinada altura e pouco antes do 25 de Abril de 1974, D. Manuel Vieira Pinto foi expulso de Moçambique, veio para o continente onde ficou abrigado na residência de uma família abastada do Cartaxo.
Depois disso, uma das religiosas da Missão de Nampula, entendeu enviar ao meu amigo José R. uma carta, para o mesmo entregar directamente ao bispo de Nampula, pois se viesse pelo correio a PIDE, se encarregaria dela como seria óbvio.
O José R. telefonou-me e convidou-me a ir com ele ao Cartaxo, num domingo, precisamente aquele que antecedeu o 25 de Abril, para entregarmos a carta. Com as características próprias das nossas idades, não olhámos ao perigos e consequências e lá seguimos nesse domingo, manhã cedo, de comboio a partir de Santa Apolónia e até Santarém.
(continua)

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

AINDA AS FEIRAS EM ALVALADE - Minhas memórias

Mas voltemos aos dias de feira. Logo que chegávamos à estação da CP, se notava que os dias eram diferentes. As linhas-férreas estavam completamente cheias de vagões, que serviriam para o transporte do gado comercializado na “ corredoura”.
A corredoura, como se chamava ao local onde se concentravam os rebanhos de ovelhas e cabras, as manadas de vacas e bois, as varas de porcos, situava-se à entrada da Vila, antecedida pelo acampamento da “ciganada”. Alvalade era na altura rodeada de extenso olival e era aí, no olival que se faziam os negócios de transacção do gado. Na estrada da estação, os ciganos tentavam vender as suas mulas e burros, correndo com os mesmos para mostrarem que não coxeavam.
Depois, frente à Escola Primária, aí sim – começava a feira. Logo aí ficava o carrossel ou carrosséis, porque por vezes era mais que um, mas geralmente o “Alegria” e o “Vieira”. Depois ao lado destes, o circo, geralmente o Cardinal, Na mesma zona as barracas do tiro ao alvo, ou as barracas das “meninas” como eram chamadas as prostitutas, onde depois do negócio de gados os comerciantes e lavradores se divertiam, entregavam ao prazer carnal e deixavam muitas vezes o resultado do negócio.

Também aí ficava instalado o Poço da Morte, ou o baloiço de roda.
A seguir as barracas de roupas, o pronto a vestir e depois as barracas de brinquedos e quinquilharias, seguidas das louças de barro, cadeiras de buinho, latoaria etc. Mesmo à entrada da feira, ficava sempre instalada a barraca das fotografias à lá minuta. Aí se juntavam as famílias, que só se encontravam nos dias da feira, para tirarem os retratos e ficarem com uma recordação. Deixando o olival e entrando na Vila, situavam-se as barracas dos frutos secos, geralmente na posse de algarvios que aqui se deslocavam, para venderem os figos secos, as amêndoas, as nozes, as alfarrobas e miniaturas de animais feitas de figo. Os pais e mães para não cederem aos pedidos dos filhos, diziam: aquilo não presta, filho! Aquilo é amassado com o cu das algarvias!
Mais acima, já quase na entrada do Largo da República, eram as frutas. As mais procuradas sem dúvida, eram as nêsperas. E recordo aqui o pregão das vendedeiras “ levem-na boa nêspera , meninas”, o que, naturalmente fazia corar as donzelas que passavam.
Entretanto e dado que nessa altura não havia abastecimento de agua, a mesma era vendida na feira pelos “aguadeiros”. Estes eram moradores da terra, que aproveitavam a ocasião para amealharem alguns patacos. O pregão também me ficou nos ouvidos: “agua fresca regalada, dois tostões é uma barrigada”. As crianças percorriam a feira procurando pessoas conhecidas, familiares ou não, pedindo “as feiras”. E logo após os tostões na mão, iam gastá-los nos pirolitos ou no torrão de Alicante.
A feira mudava Alvalade como da noite para o dia. Dezenas de comerciantes visitavam a localidade e o desenvolvimento notava-se nesses dias. As transacções efectuadas durante a feira, eram festejadas à noite, nas tabernas, uma delas a do Vitorino.
Café ? apenas o do Vasco, onde se serviam galões e garotos de boa qualidade. Igualmente nas tabernas se faziam ouvir os melodiosos cantes alentejanos, porem, só até determinada hora, pois a GNR da altura, a mando do regime politico que vigorava, não o permitia.

(continua)

terça-feira, 1 de setembro de 2009

AS FEIRAS DE ALVALADE

Eram assim passados os dias que antecediam as duas feiras anuais da vila – a de Abril, a mais antiga e a Feira Nova de Julho. Nas vésperas destas feiras era espantoso ver passar pela herdade rebanhos e rebanhos de ovelhas e cabras, manadas de vacas, que eram levados à feira para serem negociados. Logo bem cedo o badalar dos chocalhos, os maiorais assobiando, os cães a ladrarem faziam-nos sentir num ambiente que só o Alentejo desses tempos o permitia. O progresso, com tudo acabou!
Os dias que antecediam as feiras eram dias de grande azáfama. Não se falava noutra coisa senão nos grandes dias da feira. Pensavam-se e compunham-se os trajes que cada qual, segundo as suas posses deveria “estrear” nos dias de feira. Eu no meio daquele entusiasmo todo, diariamente perguntava aos trabalhadores da herdade, que moravam na Vila:
- Já lá está o carrossel?
- E o circo?
E eles, lá me iam informando:
Sim já chegou o carrossel Vieira que tem curvas valentes – e o circo Cardinal entrou ontem pela rua do Posto e foi uma carga de trabalhos! (dada a inexistência da ponte dos arcos, a entrada da Vila era feita pela Rua do Posto)
E, no dia da feira, no 1º dia, porque ambas duravam 2 dias, era ver passar grupos e grupos de gente, vindos dos Foros de Vale Lobo, uns a pé outros em carroças. Poder-se-ia dizer que a feira se estendia pelos campos, pelas herdades, tal o entusiasmo que se verificava.
Logo de manhã, minha mãe, dava-me o banho, no alguidar grande de zinco e vestia-me a rigor. E depois de tomado o cavalo, o Morgado – um animal cinzento, lindo, que se havia comprado por intermédio do Zé Rato – lá seguíamos na carrinha, a caminho da Vila, para a feira

(continua)



segunda-feira, 31 de agosto de 2009

ALVALADE MEDIEVAL



COMEMORAçÂO DOS 499 ANOS DO FORAL MANUELINO À VILA DE ALVALADE (Alentejo)
DIA 18- 19 - 20 e 23 de SETEMBRO DE 2009
VISITE www.alvalademedieval.no.sapo.pt

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Diogo


DIOGO DA GRAÇA CAROLINO, de 77 anos de idade, é natural de Rio de Moinhos, freguesia do concelho de Aljustrel, distrito de Beja.
Nos tempos da antiga Fabrica de Concentrados de Tomate - ECA - Diogo veio para Alvalade e ali fixou residência e constituiu família.
Hoje é utente do Centro de Dia de Alvalade, onde participa das diversas actividades levadas a cabo no âmbito da animação de idosos.
Mas a grande alegria da sua vida, é o cantar alentejano. O Diogo vive e revive, nas suas modas, toda uma vivência ligada ao seu Alentejo.
Tem um grande desgosto - é que o seu Grupo Coral - o Grupo Coral e Etnografico do Centro de Dia de Alvalade, munca foi reconhecido pelo poder local, como interprete do genuino folclore alentejano. Nem a Junta de Freguesia de Alvalade, nem a Câmara Municipal de Santiago do Cacém, alguma vez se lembrararam deste grupo de idosos e idosas, que pretendem continuar uma tradição.
Naturalmente que no Concelho existe o Grupo Coral da Casa do Povo de Cercal do Alentejo, que tambem ele honra as tradições do cantar alentejano. Mas tambem, no Centro de Dia de Alvalade e, na Casa do Povo de Alvalade, existe este Grupo, que é sempre ignorado. Por serem velhos? não queremos acreditar em tal!
O Diogo, apesar da sua idade, frequenta as aulas de alfabetização, no Centro de Dia. E, a quem nos visita, faz questão de oferecer um escrito, como o que a imagem representa.
Em vida! sim em vida!
Quero homenagear este grande homem, este grande amigo e grande alentejano. FORÇA DIOGO, HAVEMOS DE LÁ CHEGAR!
Lms

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Memórias de um Alvaladense - I - O Vale do Sado

O Vale do Sado, para muitos habitantes da Sede de Freguesia, desconhecido, estende-se desde Alcácer do Sal, até aos campos do Alto Sado, após a nascente do Rio que lhe dá o nome, na Serra do Caldeirão. Em Alvalade e a partir daqui até aos limites da freguesia, o rio, atravessa campos de regadio, chamados “várzeas” e detendo diversos nomes. Por exemplo nesses limites, é conhecido pela ribeira de S. Romão. São várias as herdades, a partir de Alvalade seguindo para sul, que são banhadas pelo nosso Rio. Conqueiros; Sapa; Monte da Vinha; Valverde;Corredoura;Fontainhas;Monte Novo;Almargens;Retorta;Pasmo, Foros do Vale de Lobo; Defesa e Quinta da Zorra. Aqui, nesta herdade começa a freguesia de Panoias, do concelho de Ourique. As culturas, são predominantemente o milho, o arroz, e já o foram, nos tempos da Empresa de Concentrados de Alvalade- ECA, a cultura do tomate. Vim ao mundo, precisamente numa destas herdades, mais concretamente os Almargens. Aqui nos Almargens, eu nasci em 1948, filho de pai e mãe camponeses. Nos tempos da minha infância, não existia a barragem do Monte da Rocha, em Ourique, pelo que, no inverno o leito do Sado transbordava com muita facilidade, dando origem a grandes enchentes ou “ cheias “ como se chamavam. Após dias e dias de grandes chuvadas, as aguas do rio Sado, começavam lentamente a subir, galgando as margens e fazendo das várzeas autênticos lagos. Os animais surpreendidos pelas aguas eram arrastados. Nos montes os moradores e trabalhadores viam-se impedidos de retomar os seus trabalhos agrícolas e para minguarem as necessidades, entretinham-se a retirar das aguas alguns bens, fruta das hortas, animais como galinhas e patos e um ou outro suíno. Certa vez, o lavrador de um monte vizinho, veio com as suas filhas, ambas num pranto pedir ajuda, pois não se tratava de galinhas ou suínos em perigo, mas sim os bois que estavam quase cercados pelas aguas. E, num ápice, toda a criadagem rumou para o monte vizinho e com paus, cordas e alguns com agua até ao pescoço lá conseguiram salvar os animais. Tempos difíceis aqueles, onde apenas a solidariedade aliviava o sofrimento daqueles que labutavam no dia a dia para ganharem o seu sustento e dos seus familiares.

APRESENTAÇÃO

Nestas coisas das novas tecnologias, é para mim dificil o acesso. Tenho que me valer dos mais novos, a quem rendo o meu agradecimento, pela paciência que demonstram ao "aturarem" este cota.
E quero, deixar aqui no inicio o meu agradecimento às minhas sobrinhas, Joana e Marta, que me ajudaram a criar o blogue, durante as férias de 2009 em Altura. Espero não as desiludir com aquilo que futuramente aqui vou escrever. Tal como a primeira crónica, a que outras se irão seguir, tentarei dar a conhecer aspectos relacionados com a minha vivência, no nosso alentejo que, alguem disse um dia " è um País dentro duma grande Nação".
Não esquecerei a minha terra natal - Alvalade - a que muitos acrescentam " Sado", para se distinguir do bairro administrativo de Lisboa. Por mim até achava bem. Mas o certo é que o nome da localidade é apenas- Alvalade.
Tambem falarei, no que foi a minha vida profissional, bem como na grata experiência de voluntario principalmente numa instituição social, à qual tenho dado parte da minha vida, com o sacrificio pessoal e familiar daí resultante.
Enfim, este é para mim, o local onde irei desabafar e contar o que cá vai dentro.
Espero contar com a paciência daqueles que me visitarem.
MS