segunda-feira, 25 de abril de 2011

MINHAS MEMÓRIAS- 25 de Abril Sempre!

25 de ABRIL – SEMPRE!


Há 37 anos – Almada – manhã do dia 25 de Abril. O serralheiro mecânico do Arsenal do Alfeite, Luís Martins Silva, preparava-se para iniciar mais um dia de trabalho. Desceu de Almada – avenida do Cristo Rei, onde morava num quarto alugado, para a Cova da Piedade e daí até ao portão do Arsenal do Alfeite. Lá chegado, estranhou estar vedada a entrada aos operários e a outros funcionários do estaleiro naval. Nos seus 24 anos, encarou o sucedido como algo de aventureiro que se estaria a passar. Entretanto já se murmurava sobre o que se desenrolaria em Lisboa desde as primeiras horas da madrugada. Pelos vistos havia uma revolução. Sem entender bem o que se passava, mas já com algumas luzes no espírito, sobre questões politicas, adquiridas ao longo da guerra colonial na Guiné, donde havia regressado dois anos antes, algo me dizia que se estariam a viver momentos históricos. Três dias antes tinha tido o primeiro contacto com a policia politica - PIDE, no episódio já aqui relatado noutra crónica e relacionado com o Bispo de Nampula D. Manuel Vieira Pinto.

Depois de várias horas sem que os portões do estaleiros navais da Marinha de Guerra Portuguesa, se abrissem, foram transmitidas por um oficial da Marinha, indicações de que até novas ordens, o trabalho estaria suspenso. Regressei pois a casa e daí, dirigi-me a Cacilhas, com o fim de tentar saber mais daquilo que se estaria a passar em Lisboa, ou até mesmo embarcar para a outra margem, para acompanhar ao vivo o desenrolar da revolução. Mas, estavam cortadas as carreiras de barcos cacilheiros para e de Lisboa. No cais aglomerava-se uma pequena multidão ansiosa por saber concretamente o ponto da situação. Até que, passadas horas, o primeiro comunicado na rádio anunciava: “Aqui Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas….”

Era a libertação do País, era a entrega da dignidade roubada pelo fascismo, aos portugueses, iniciativa de um grupo de capitães milicianos, do M.F.A. a que se estaria a juntar o povo português, que, segundo as noticias e comunicados enchia as ruas de Lisboa. Momento alto e que jamais seria esquecido.

Momento que hoje, passados 37 anos, voltamos a festejar, embora o povo português esteja a passar por graves dificuldades. Graves dificuldades resultantes dos erros de tantos que se apoderaram do 25 de Abril, como se fossem os únicos mentores desta data gloriosa: Os políticos carreiristas dos sucessivos governos, mas não só. Outros mais, parece entenderem serem eles os únicos neste processo. E sejam de direita, sejam de esquerda. Parece terem esquecido aqueles que em África numa guerra injusta tomaram a consciência libertadora, aliada aos que na clandestinidade lutaram por uma mudança.

Continuamos a festejar Abril, como sempre o fizemos, se bem que, já de uma forma menos intensa do que aquelas comemorações de anos idos. Ouviram-se na passagem da meia noite, meia dúzia de foguetes tímidos, a anunciarem um grande dia. Diferente este raiar do 25 de Abril, daquele que em anos anteriores faziam de Alvalade, a freguesia do concelho, onde com mais intensidade popular esta data era festejada. Hoje? Bem hoje, nada era como dantes. Meia dúzia de foguetes, nada de fogo de artificio, um baile no largo, onde faltam as habituais tasquinhas das instituições locais que foram ignoradas e amanhã 25 de Abril, apenas uma arruada com banda de música. Nada como era dantes! Será que o 25 de Abril, perdeu o seu valor? Como resposta apetece gritar 25 de ABRIL – SEMPRE!

Hoje dia 25 de Abril, pela primeira vez, irei rumar à capital. E à tarde, irei descer a Avenida da Liberdade, como muitos milhares para quem a chama libertadora do 25 de Abril, continua acesa e gritar a plenos pulmões que O POVO UNIDO, JAMAIS SERÁ VENCIDO.

VIVA PORTUGUAL!

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

AS MINHAS MEMORIAS -O inesquecível Tio Libertário

O INESQUECÍVEL TIO LIBERTÁRIO
Durante o funcionamento da escola-paga da Dª Inês, a meio da manhã e a meio da tarde, havia o recreio, e quando o mesmo acontecia, aí íamos nós, Rua de Lisboa abaixo, até ao Serro do Moinho. Brincava
-se ao “apanhar”, faziam-se as necessidades fisiológicas, porque, casas de banho não as haviam. Eu ficava na casa de minha tia Maria Teresa, meia irmã de minha mãe. A minha tia vivia com muitas necessidades económicas, trabalhava no campo de sol a sol, enquanto o marido meu tio Libertário, trabalhava de oficial sapateiro, a principio na oficina do Sr. Garcia e mais tarde, quando aquela fechou as portas, por conta própria. Era  uma pessoa adorável, muito brincalhão a carinhoso com os filhos o Tó Zé e a Clarinha, mas também comigo a quem tratava como filho. Mas tinha um problema que era semelhante à maioria dos homens desta localidade – gostava do seu copito!.

E certa vez, minha tia chegou do trabalho, foi à Bica lavar uns trapos, trazer agua para casa – não havia agua canalizada, fez o jantar e como meu tio se demorava a vir, da taberna do Quedas, a meio da ladeira do Posto mandou-me ir chamá-lo para jantar. Eu fui a correr, cheguei lá e disse para meu tio:

-Tio, a tia diz para você vir jantar!

E ele, brincalhão, respondeu:

-Tá bem meu filho. Diz lá à tia, que vá migando as sopas que eu já levo o pão!

E eu voltei e fui, na minha inocência, transmitir o recado a minha Tia.

Noutra ocasião, estávamos a jantar e eu gostava muito de linguiça cozida. O meu tio, brincalhão como sempre, colocou-me no prato, algumas rodelas e, misturada com elas, uma malagueta. Claro que, sendo noite, à luz do candeeiro a petróleo – não havia electricidade, meti à boca a malagueta e o resultado foi o que se calcula. Mas ele não fazia isto por mal, era a forma de ser – brincalhão.

Quando, anos mais tarde, tive que ir para a guerra colonial, para a Guiné (de que falarei na altura própria), no dia em que me fui despedir da família, dormi em casa de minha tia, na rua do Cerradinho, hoje rua 1º de Maio. Meu tio, como habitualmente foi para a taberna e quando voltou, já vinha “grosso”. E então, ao lembrar-se que aquela seria provavelmente a última noite que ali pernoitava, visto nunca se saber se algum dia regressaria ou não com vida, desatou num choro alto, que acordou a vizinhança. E no pranto, não se cansava de dizer:

- Meu rico filho, que nunca mais o vejo!

Era assim o meu tio Libertário, muito alegre, muito sentimental, um coração do tamanho do mundo, um dos grandes amigos que tive e que jamais esquecerei.

AS MINHAS MEMÓRIAS- Quando fui para a Escola

QUANDO FUI PARA A ESCOLA

Antes de completar os sete anos, idade obrigatória para se ir para a escola oficial, minha mãe mandou-me para a “escola paga”. A “escola paga” era uma especíe de pré-escolar, onde as crianças aprendiam as primeiras letras. Aí sob a orientação da Dª Inês, aprendíamos a escrever em ardósias, a soletrar as primeiras palavras, de forma que, quando ingressássemos na oficial, já íamos instruídos. Grande Senhora foi a Dª Inês. Muito educada, com sentido de responsabilidade, ela ensinava as letras, mas também ensinava as crianças na sua educação. Falta a Alvalade, render homenagem póstuma a esta grande Senhora. A “ escola paga” também era conhecida pela “escola da Dª Inês” e funcionava na Rua de Lisboa( está por concretizar a homenagem pública à DªInês, que ensinou as primeiras letras a tantos alvaladenses). Pagava-se vinte e cinco tostões por semana, mas por vezes a Dª Inês fechava os olhos àqueles que por dificuldades económicas o não podiam fazer.

AS MINHAS MEMÓRIAS As Feiras em Alvalade -2

as Minhas Memórias

AS FEIRAS EM ALVALADE 

Logo de manhã, minha mãe, dava-me o banho, no alguidar grande de zinco e vestia-me a rigor. E depois de tomado o cavalo, o Morgado – um animal cinzento, lindo, que o Toino havia comprado por intermédio do Zé Rato – lá seguíamos na carrinha, a caminho da Vila, para a feira.

Gostaria de falar aqui um pouco do Morgado, porque também ele faz parte das minhas memórias. O Morgado era, como já referi, um lindo animal. Mas tinha um defeito. Quando menos se esperava “embicava” isto é faltava-lhe as forças nas pernas dianteiras e pumba, caía e muitas vezes caíamos nós também. Certa vez, poder-se-ia ter dado um grande desastre – o Morgado entendeu cair, precisamente numa passagem de nível, quando o comboio já assomava ao fundo da recta , junto ao Monte Novo. Conseguiu-se cortar os arreios a tempo. Também, no dia em que fiz o meu exame da 3ª classe, quando íamos a caminho da Vila, junto à Casa da Guarda da CP, o Morgado resolveu “embicar” e eu, que não ia seguro, passei pelo ar por cima dele e estatelei-me felizmente só com uns arranhões.

Outra mania do Morgado, é que gostava de competir com o comboio. Se seguíssemos numa estrada paralela à via férrea, quando o comboio por nós passasse, o Morgado lançava-se numa corrida doida, aos quatro, tentando o impossível – ultrapassar o comboio. O resultado é que, com esta mania, mais depressa chegávamos ao destino.

Mas voltemos aos dias de feira. Logo que chegávamos à estação da CP, se notava que os dias eram diferentes. As linhas férreas estavam completamente cheias de vagões, que serviriam para o transporte do gado comercializado na “ corredoura”.

A corredoura, como se chamava ao local onde se concentravam os rebanhos de ovelhas e cabras, as manadas de vacas e bois, as varas de porcos, situava-se à entrada da Vila, antecedida pelo acampamento da “ciganada”. Alvalade era na altura rodeada de extenso olival e era aí, no olival que se faziam os negócios de transação do gado. Na estrada da estação, os ciganos tentavam vender as suas mulas e burros, correndo com os mesmos para mostrarem que não coxeavam.

Depois, frente à Escola Primária, aí sim – começava a feira. Logo aí ficava o carrocel ou carroceis, porque por vezes era mais que um, mas geralmente o “Alegria” e o “Vieira”. Depois ao lado destes, o circo, geralmente o Cardinal, Na mesma zona as barracas do tiro ao alvo, ou as barracas das “meninas” como eram chamadas as prostitutas, onde depois do negócio de gados os comerciantes e lavradores se divertiam , entregavam ao prazer carnal e deixavam muitas vezes o resultado do negócio.

Também aí ficava instalado o Poço da Morte, ou o baloiço de roda.

A seguir as barracas de roupas, o pronto a vestir e a seguir as barracas de brinquedos e quinquilharias, seguidas das louças de barro, cadeiras de buinho, latoaria etc. Mesmo à entrada da feira, ficava sempre instalada a barraca das fotografias à la minuta. Aí se juntavam as famílias, que só se encontravam nos dias da feira, para tirarem os retratos e ficarem com uma recordação. Deixando o olival e entrando na Vila, situavam-se as barracas dos frutos secos, geralmente na posse de algarvios que aqui se deslocavam, para venderem os figos secos, as amêndoas, as nozes, as alfarrobas e miniaturas de animais feitas de figo. Os pais e mães para não cederem aos pedidos dos filhos, diziam: aquilo não presta, filho! Aquilo é amassado com o cu das algarvias!
Mais acima, já quase na entrada do Largo da República, eram as frutas. A mais procurada sem dúvida, eram as nêsperas. E recordo aqui o pregão das vendedeiras “ levem-na boa nêspera , meninas”, o que, naturalmente fazia corar as donzelas que passavam.
Entretanto e dado que nessa altura não havia abastecimento de agua, a mesma era vendida na feira pelos “aguadeiros”. Estes eram moradores da terra, que aproveitavam a ocasião para amealharem alguns patacos. O pregão também me ficou nos ouvidos: “agua fresca regalada, dois tostões é uma barrigada”. As crianças percorriam a feira procurando pessoas conhecidas, familiares ou não, pedindo “as feiras”. E logo após os tostões na mão, iam gastá-los nos pirolitos ou no torrão de Alicante.

A feira mudava Alvalade como da noite para o dia, Dezenas de comerciantes visitavam a localidade e o desenvolvimento notava-se nesses dias. As transações efetuadas durante a feira, eram festejadas à noite, nas taberna, uma delas a do Vitorino
Café ? apenas o do Vasco, onde se serviam galões e garotos de boa qualidade. Igualmente nas tabernas se faziam ouvir os melodiosos cantes alentejanos, porem, só até determinada hora, pois a GNR da altura não o permitia, por indicações do governo da época.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

SENTIDA HOMENAGEM À DRA IRENE DO CARMO ALEIXO

Recordo aqui, ao mesmo tempo que presto uma sentida homenagem a uma mulher com a qual convivi, no decurso da minha actividade profissional. Infelizmente deixou-nos em Setembro de 2010. Poucos falaram dela nessa ocasião, embora muitos tivessem beneficiado da sua actividade quando esteve à frente do Centro Regional de Segurança Social de Setúbal e cumulativamente do Governo Civil do nosso Distrito. Foi ela quem ordenou a criação dos Centros de Dia, nos concelhos do sul do distrito de Setúbal, para alem de outros equipamentos sociais, Desempenhou igualmente as funções de Comissária Regional da luta contra a Pobreza. Embora muito distante da minha ideologia, pelo que nao posso ser acusado de favoritismo politico. Falo da Dra Irendo Carmo Aleixo, Mais conhecida por Irene Aleixo. Militante do PSD, foi no então governo do Professor Cavaco Silva que exerceu aqueles cargos. Conhecida igualmente por “Pombinha”, dada a sua irreverência e a forma como directa e frontalmente atacava os assuntos mais melindrosos que afectavam o distrito. Por exemplo, quando foi assassinado um jovem, guarda dum estabelecimento nocturno, não hesitou e publicou um regulamento distrital que ordenava o encerramento de bares, discotecas etc. à uma hora da madrugada. Tal medida produziu tão grande descontentamento que teve de ser rapidamente anulada. Foi ela, que, aquando uma visita à Casa do Povo de Alvalade, quando eu desempenhava funções administrativas, e após ter assistido à encenação orientada por mim, de um Auto de Natal, com idosos, de imediato mandou reunir a Direcção de então e ordenou “Na Casa do Povo de Alvalade, não podem continuar dois funcionários, mas apenas um. A funcionária (X) fica em Alvalade, o Luís vai integrar a equipa da Acção Social de Santo André, desempenhando as funções de animador, pois já vi que tem o perfil necessário para tal. Naturalmente protestei, dizendo que, como funcionário mais antigo me achava com o direito de continuar em Alvalade. Respondeu que eu não iria sair de Alvalade. Ficava na Casa do Povo e iria a Santo André quando necessário e igualmente iria as instituições de idosos do concelho. E, para tal, a Segurança Social iria colocar á minha disposição uma viatura com senhas de combustível , para as minhas deslocações. E assim foi. Claro que a viatura foi sol de pouca duração. Mas, durante 14 anos, desempenhei aquelas funções, quase até a minha aposentação

Mas existe um episódio, que jamais esquecerei. A Dra. Irene Aleixo, numa visita que fez ao Centro de Dia de Alvalade, anunciou que iria dar à instituição, uma viatura de nove lugares ( a primeira carrinha que serviu o Centro de Dia). Mas depois da promessa feita, e na medida em que demorava a sua entrega, eu e o presidente da Direcção, Sr. Horácio Fonseca deslocámo-nos ao Governo Civil, afim de indagarmos sobre o atraso na vinda da viatura.

Após entrarmos no gabinete da governadora, de imediato nos transmitiu a seguinte ordem:

“os senhores têm que ir a S. Domingos, com utentes em tal data porque vai lá o primeiro-ministro Prof. Cavaco Silva”.

- Mas (retorqui) Sra. Governadora, nós vamos mas não temos transporte. Só se pedirmos a carrinha ao padeiro ( o saudoso Joaquim Rainha). Mas, a carrinha é para transportar pão e não pessoas, ainda vem a guarda republicana e multa-nos!

Resposta rápida da Governadora : - “ A GNR nesse dia não multa ninguém, tomara ela olhar pelos comunistas”

Respondi – Ora senhora Governadora, não se preocupe com isso, não vai haver problemas.

Resposta rápida da Dra. Irene Aleixo -. Bem, se você o diz lá o sabe!

E dirigindo-se ao gabinete ao lado, onde se encontrava a sua secretária, ordenou-lhe:

“Oh Beta, telefona aí ao comandante da guarda, que não multe a carrinha do padeiro de Alvalade”

Todos nós que presenciávamos a cena, fizemos um imenso esforço para suster o riso.

O certo é que, o Centro de Dia de Alvalade esteve presente na recepção ao Primeiro Ministro, na visita que efectuou na década de 80 à vizinha freguesia de S. Domingos.

Gratas recordações que guardarei para sempre. Costumo afirmar que profissionalmente foi a Dra. Irene Aleixo a única personagem politica que me deu valor. Anos mais tarde, outros, de outros quadrantes mais à esquerda, anularam as suas ordens e mandaram-me para Santo André, aonde durante um ano até à minha aposentação, tive que me deslocar de manhã bem cedo regressando a Alvalade ao fim da tarde.

Nesta sentida homenagem ,só posso desejar, que a Dra. Irene Aleixo descanse em paz, junto de Deus a quem ela tanto amava.



sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

ETAPAS da VIDA actualidade responsab. associativas

                                    actualidade - responsabilidades associativas em Alvalade

ETAPAS da VIDA -35 anos -responsabilidades autarquicas Presid da Junta de freg de Alvalade

                                            35 anos - responsabilidades autárquicas em Alvalade