Há 37 anos – Almada – manhã do dia 25 de Abril. O serralheiro mecânico do Arsenal do Alfeite, Luís Martins Silva, preparava-se para iniciar mais um dia de trabalho. Desceu de Almada – avenida do Cristo Rei, onde morava num quarto alugado, para a Cova da Piedade e daí até ao portão do Arsenal do Alfeite. Lá chegado, estranhou estar vedada a entrada aos operários e a outros funcionários do estaleiro naval. Nos seus 24 anos, encarou o sucedido como algo de aventureiro que se estaria a passar. Entretanto já se murmurava sobre o que se desenrolaria em Lisboa desde as primeiras horas da madrugada. Pelos vistos havia uma revolução. Sem entender bem o que se passava, mas já com algumas luzes no espírito, sobre questões politicas, adquiridas ao longo da guerra colonial na Guiné, donde havia regressado dois anos antes, algo me dizia que se estariam a viver momentos históricos. Três dias antes tinha tido o primeiro contacto com a policia politica - PIDE, no episódio já aqui relatado noutra crónica e relacionado com o Bispo de Nampula D. Manuel Vieira Pinto.
Depois de várias horas sem que os portões do estaleiros navais da Marinha de Guerra Portuguesa, se abrissem, foram transmitidas por um oficial da Marinha, indicações de que até novas ordens, o trabalho estaria suspenso. Regressei pois a casa e daí, dirigi-me a Cacilhas, com o fim de tentar saber mais daquilo que se estaria a passar em Lisboa, ou até mesmo embarcar para a outra margem, para acompanhar ao vivo o desenrolar da revolução. Mas, estavam cortadas as carreiras de barcos cacilheiros para e de Lisboa. No cais aglomerava-se uma pequena multidão ansiosa por saber concretamente o ponto da situação. Até que, passadas horas, o primeiro comunicado na rádio anunciava: “Aqui Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas….”
Era a libertação do País, era a entrega da dignidade roubada pelo fascismo, aos portugueses, iniciativa de um grupo de capitães milicianos, do M.F.A. a que se estaria a juntar o povo português, que, segundo as noticias e comunicados enchia as ruas de Lisboa. Momento alto e que jamais seria esquecido.
Momento que hoje, passados 37 anos, voltamos a festejar, embora o povo português esteja a passar por graves dificuldades. Graves dificuldades resultantes dos erros de tantos que se apoderaram do 25 de Abril, como se fossem os únicos mentores desta data gloriosa: Os políticos carreiristas dos sucessivos governos, mas não só. Outros mais, parece entenderem serem eles os únicos neste processo. E sejam de direita, sejam de esquerda. Parece terem esquecido aqueles que em África numa guerra injusta tomaram a consciência libertadora, aliada aos que na clandestinidade lutaram por uma mudança.
Continuamos a festejar Abril, como sempre o fizemos, se bem que, já de uma forma menos intensa do que aquelas comemorações de anos idos. Ouviram-se na passagem da meia noite, meia dúzia de foguetes tímidos, a anunciarem um grande dia. Diferente este raiar do 25 de Abril, daquele que em anos anteriores faziam de Alvalade, a freguesia do concelho, onde com mais intensidade popular esta data era festejada. Hoje? Bem hoje, nada era como dantes. Meia dúzia de foguetes, nada de fogo de artificio, um baile no largo, onde faltam as habituais tasquinhas das instituições locais que foram ignoradas e amanhã 25 de Abril, apenas uma arruada com banda de música. Nada como era dantes! Será que o 25 de Abril, perdeu o seu valor? Como resposta apetece gritar 25 de ABRIL – SEMPRE!
Hoje dia 25 de Abril, pela primeira vez, irei rumar à capital. E à tarde, irei descer a Avenida da Liberdade, como muitos milhares para quem a chama libertadora do 25 de Abril, continua acesa e gritar a plenos pulmões que O POVO UNIDO, JAMAIS SERÁ VENCIDO.
VIVA PORTUGUAL!
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