Estava eu a frequentar a escola primária em Alvalade e residindo na herdade, distante cinco quilómetros, fazia diariamente o percurso, isto é, de manhã, 5 quilómetros da herdade para Alvalade e à tarde outros 5 km da escola para a herdade.
Este percurso era feito caminhando sozinho, pela berma da via férrea do Vale do Sado, ainda hoje chamada Linha do Sado. Nesses tempos era permitido circular pelas bermas da via férrea. Hoje isso é impossível, pois a mesma encontra-se electrificada e é vedado aos transeuntes circularem junto à via. Até porque hoje os comboios já não são a carvão, nem sequer a diesel. Só o Alfa, produz á sua passagem uma autentica tempestade de vento, que não perdoaria a quem, nesses tempos circular pelas bermas da linha. É o progresso!
Pois numa das ocasiões em que, após as aulas, ao fim do dia, me dirigia para o “monte”, deveria ter à volta de 8 anos de idade, passei por um tipo de cactos, ainda hoje existentes nos campos, que produzem os chamados “figos da índia”. Já os tinha comido, eram e são bastante deliciosos, mas para os colher são precisos muitos cuidados, pois os mesmos produzem pelos, pontiagudos, muito finos, que se entranham na pele com imensa facilidade.
Eu, desconhecia esse pormenor, pois nunca ninguém me havia alertado para o facto. Já os tinha comido, oferecidos por alguém, que não me alertou para isso. E aqueles que ali estavam ao meu alcance, eram grandes, e apetitosos. E, como tal, não estive com mais delongas e toca de jogar as mãos e encher a sacola de figos da índia. Depois continuei o meu caminho por entre as arvores e o mato, até chegar ao “monte”.
Ali chegado, ao mostrar a minha mãe os apetitosos figos da índia, já mal podia suportar as dores nas mãos, devido aos inúmeros pelos dos figos espalhados por elas. Minha mãe, claro zangou-se e tratou de me colocar as mãos num recipiente com azeite virgem e depois, enfiar-me nas mãos umas meias, das que se usam nos pés. E passei a noite e o dia seguinte (tive que faltar à escola), até que a praga desaparecesse. Ainda hoje, tenho na ideia, o sofrimento de que fui alvo com os “apetitosos” figos da índia.
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