terça-feira, 27 de agosto de 2013

NOS 70 ANOS DA CASA do POVO de ALVALADE - 1943-2013


A minha vida e a Casa do Povo (1)


Quando no inicio da década de 60, com os meus 12 anos de idade, visitei na companhia do meu protetor – lavrador da herdade dos Almargens, o edifício da sede da Casa do Povo de Alvalade, então em construção, estava longe de pensar que parte da minha vida futura estaria ligada a esta instituição. De facto, a partir daí comecei a nutrir pela mesma, uma ligação que se viria a fomentar mais intensa, quando em 1976, ingressei no quadro de pessoal da Casa do Povo de Alvalade. Vivia-se nesses tempos forte movimentação resultante do regime instaurado em 25 de Abril de 1974. As Casas do povo, foram criadas por Salazar e após a revolução eram vistas com grande desconfiança e animosidade. Muitos dos seus dirigentes haviam sido afastados, uns por ligação ao regime ditatorial, outros acusados disso, embora em muitos dos casos tal não se verificasse. Mas a onda saneadora não poupava ninguém, dirigentes e até trabalhadores. Foi assim que muitas se viram sem funcionários e como tal houve que admitir novos trabalhadores. Encontrava-me então a exercer atividade profissional no Arsenal do Alfeite, em Almada, quando pessoa amiga me informou da existência de concurso para novos funcionários da Casa do Povo. Inscrevi-me, na então Junta Central das Casas do Povo e fui presente a concurso de admissão ao lugar de escriturário. As provas foram efetuadas no próprio edifício da instituição e, de entre vários concorrentes fiquei classificado em primeiro lugar, tendo iniciado as atividades em Dezembro de 1976, com vinte e oito anos de idade. Como atrás referi, ser funcionário da instituição, nesses tempos, constituía uma aventura e uma grande incerteza. Mas, lá consegui singrar . Nessa altura a vida da Casa do povo, resumia-se ao serviço de secretaria, no âmbito de regime especial de previdência dos trabalhadores rurais. Atividades socioculturais também. Com a minha juventude, rapidamente me embrenhei na vida associativa. Após algum tempo, foi criado o Grupo de Acão Cultural, constituído por alguns jovens Alvaladenses, que desenvolviam atividades culturais e recreativas. Lembro-me que uma das primeiras iniciativas foi  a realização de um concerto musical, com a Banda da Força Aérea. Devido à recente revolução dos cravos as forças armadas granjeavam o carinho e a admiração das populações, pelo que este facto constituiu um enorme êxito. Curiosamente a grandeza da banda obrigou a que o pequeno palco do salão de festas fosse prolongado até metade da sala, para poder acomodar todos os executantes. Refiro este facto, como uma das primeiras, senão a primeira atividade cultural realizada após a minha admissão na instituição. O que não quer dizer que a seguir ao 25 de Abril de 1974, Alvalade não tivesse assistido a outras realizações de grande valor. Recordo ainda a primeira festa do trabalhador realizada no então “quintal da Rosarinha” como lhe chamávamos e cujo primeiro impulsionador, foi o saudoso  Domingos de Carvalho.

O Grupo de Acão Cultural, iniciou pois a sua atividade na Casa do Povo, organizando um grupo de teatro , cujo primeiro trabalho foi a representação da peça de Alfonso Sartre “A morte no bairro”.

Mais tarde, sob a influência do então pároco padre José Martins Salgueiro, os jovens Alvaladenses começaram a granjear interesse pela história de Alvalade e foi por iniciativa daquele padre que um grupo de jovens entre os quais me incluía, se deslocaram a Lisboa, à Torre do Tombo, a fim  de observarem o original do Foral de Alvalade. E, pode afirmar-se que, graças ao clérigo que nos acompanhava, tivemos nas nossas mãos o secular LIVRO dos FORAIS NOVOS, que se encontrava guardado na casa forte daquele arquivo histórico. Grandes momentos, hoje infelizmente desvalorizados, mas que confirmam a existência em Alvalade ao longo dos últimos anos de pessoas empenhadas no estudo e pesquisa da nossa realidade histórica. E, posso afirmar que a todas estas atividades esteve sempre ligada a Casa do Povo de Alvalade.
(continua)

domingo, 12 de fevereiro de 2012

A MINHA ENTRADA NO MUNDO DO TRABALHO - 2


Em certa altura passei a acompanhar na minha condição de aprendiz, um operário chamado Moreira, que era natural de Montes Juntos – Alandroal, mas que há anos vivia no Laranjeiro, aos navios da marinha de guerra.

 Para quem não conhece o Arsenal do Alfeite, são os estaleiros navais que dão apoio na manutenção dos navios da nossa armada. O Moreira ia varias vezes ao navios ancorados, para proceder a reparações, muitas vezes relacionadas com as bombas de agua. Agradou-me e jamais esquecerei as “visitas” que ambos fazíamos a bordo do navio – escola Sagres.
Mais tarde, fui transferido para uma outra secção onde aperfeiçoei os meus conhecimentos, embora mantendo a categoria profissional de operário. Tratava-se da Secção de Normalização e Classificação de Materiais. Aí desenhavam-se peças que depois seriam fabricadas nas oficinas, estudavam-se as NEP ( normas portuguesas). Era um trabalho mais aliciante, longe do ruído da maquinaria e naturalmente mais higiénico. Lembro-me que a secção era chefiada por um engenheiro cujo nome não recordo e por um funcionário administrativo cujo nome era Costa. O Costa era um amigo e camarada, e através dele me iniciei na vida político-partidária . Primeiramente no MDP/CDE e depois quando este Movimento passou a partido politico, inscrevi-me no Partido Comunista Português durante algum tempo. O Costa estava sempre disponível para transmitir-me os ensinamentos de que necessitava. Estudava à noite em Lisboa, na Faculdade de Economia E, ficou-me gravado o dia em que pela manhã no inicio da jornada diária de trabalho, o Costa entrou na secção, depois de ter realizado  as provas de exame na Faculdade, que lhe concederam a licenciatura naquela área.
Na secção éramos cerca de dez funcionários e nessa manhã, perfilados logo que o Costa entrou dissemos em uníssono:
- Bom dia senhor Doutor!
E o Costa respondeu de forma agressiva, nada satisfeito com o título académico a que tinha direito:

- Senhor Doutor o c….
Era assim o grande companheiro e ao mesmo tempo bom camarada - o Costa!
Foi ele quem politicamente me instruiu, quem projectou mais longe os meus escassos conhecimentos da realidade que do mundo actual, onde uns têm tudo e outros quase nada! A minha eterna gratidão ao grande amigo e companheiro de ideologia, o Costa!



quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

A MINHA ENTRADA NO MUNDO DO TRABALHO - 1




Quando terminei o curso industrial, ou mais concretamente o curso de formação de electromecânico, no principio dos anos 60, na Escola Industrial e Comercial de Beja, rumei para Almada, onde por intermédio de um familiar que já partiu, ingressei no Arsenal do Alfeite, como aprendiz de serralheiro mecânico.

Nunca concordei com a situação de “aprendiz”, dado que no curso industrial, tal como nos demais cursos ministrados nas antigas Escolas Técnicas, a aprendizagem era exemplar. Nas oficinas colocadas à disposição dos “aprendizes” nada faltava para que se formassem bons profissionais. E, depois de três anos de curso, custa um pouco ingressar no mundo do trabalho com a profissão de “aprendiz” . E se pensarmos que esta categoria era distribuída por aprendiz de 3ª, aprendiz de 2ª e aprendiz de 1ª, maior será a nossa repulsa.

Pois fui admitido como aprendiz de 3ª classe, com o vencimento mensal de 802$00. Tinha na ocasião 17 anos de idade. Outra particularidade que em muito ajudava os jovens aprendizes, é que, com um horário das 8 horas às 15 horas, quando os demais operários iam até às 17 horas. A razão consistia no facto dos jovens estudarem reunindo assim conhecimentos teóricos que aliados aos conhecimentos práticos faziam deles, na generalidade bons profissionais.

No meu caso, saía como tal às 15 horas, e percorria o caminho que me levava do Portão da Romeiras, passando pela Cova da Piedade e subindo depois até, Almada,  à urbanização sobranceira à Lisnave onde residiam os meus familiares que me acolheram em sua casa. Teria pois o tempo suficiente para estudar, preparando-me para, após o jantar, iniciar as aulas na então Escola Industrial e Comercial Emídio Navarro, até às 23 horas.

Ingressei pois naquele estabelecimento de ensino, no 1º ano da Secção Preparatória ao Instituto Indusdrial.Aí permaneci até  a minha ida para o serviço militar obrigatório. Entretanto porque os meus familiares decidiram  adquirir casa própria, passei a residir, primeiramente, junto ao monte do Cristo Rei e mais tarde em dois quartos alugados, perto desse local.

No Arsenal, onde fui como frisei admitido como aprendiz de serralheiro mecânico, na oficia de ferramentas, tive o primeiro contacto com o mundo do trabalho um tanto ou quanto penoso para mim. Como serralheiro mecânico passava todo o horário de trabalho, numa bancada, na frente de um torno, onde se reparava de tudo o que fosse ferramentas de trabalho. A oficina não era grande, mas dava trabalho a cerca de 30 operários, chefiados por dois “mestres”, cijos nomes se a memória não me falha eram Campos e Manuel ? que conhecíamos por “nini”. Eram boas pessoas, embora contactassem com os operários apenas o necessário. De resto permaneciam num gabinete, de dentro do qual, através de uma vidraça seguiam toda a vida da oficina.

Já não consigo recordar-me dos meus colegas de trabalho. Mas lembro-me que na minha frente na bancada, um operário de idade avançada, se entretinha a falar comigo, sobre os mais variados aspectos. Devido a isso, muitas vezes tanto um como o outro eram chamados à razão pois com a conversa esquecíamos o trabalho.

Na oficina, muitos dos trabalhadores viam em mim, o filho de um qualquer agrário alentejano. Embora constantemente os informasse que provinha de trabalhadores agrícolas, quase não acreditavam, pois eles sabiam que as classes rurais tinham dificuldades em darem estudos aos filhos. Atrevo-me até, a afirmar, que por vezes e a principio devem ter pensado que teria ali sido colocado, para ouvir as suas conversas e comentários nada favoráveis ao regime. Levou muito tempo até se convencerem de que tal não correspondia à verdade. Tive e conheci ali grandes amigos. Provavelmente poucos serão vivos.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012


A propósito de JOSÉ RAPOSO NOBRE

Isto de escrever as nossas memórias, por vezes não é tarefa fácil. Se a principio assim parece, depois as ideias vão-se dissipando e a muito custo, vem ao de cima.

Mas por vezes basta que alguém recorde factos passados para imediatamente se fazer luz e as recordações virem ao de cima.

Isto a propósito do artigo colocado mo “Alvalade.info” administrado pelo conterrâneo e amigo Luís Pedro Ramos, a propósito do grande homem  que durante a vida contribuiu e continua a contribuir com o seu esforço e trabalho, para o desenvolvimento de Alvalade. Refiro-me ao José Raposo Nobre, grande amigo, que tive o grato prazer de acompanhar na vida pública, quase logo a seguir ao 25 de Abril. Anteriormente a esta data libertadora, recordo igualmente o José Nobre, principalmente na sua actividade de empregado de comercio, no estabelecimento comercial dos Sr Inácio Cabrita Cortes, um dos mais importantes da Vila de Alvalade, situado onde hoje se encontra o café “ O  Sitio Certo”.

Mas depois de procurar factos passados, dou por mim a recordar o nosso José Raposo Nobre, na sua condição de autarca. Lembro-me que as reuniões da Câmara eram à sexta-feira e eu, jovem de vinte e alguns anos, desenvolvia actividade na força politica onde militava e continuo a militar – o PCP, embora nesses tempos numa forma de grande actividade. Pertencia então à Comissão Concelhia e as reuniões deste órgão eram igualmente à sexta-feira. Assim, eu aproveitava a “boleia” do José Nobre e chegados a Santiago ele entrava na Câmara e eu ia para a “prisão”. E quando digo isto espero que o admitam como brincadeira, mas a Sede do PCP nessa altura era no antigo estabelecimento prisional de Santiago do Cacém, já na altura desactivado e hoje albergando um dos melhores museus concelhios nacionais.

Ambos íamos para reuniões que em lados opostos da Praça do Município, terminavam madrugada fora. E, numa das ocasiões, não sei bem porque motivo, o Sr. Nobre, talvez com o cérebro saturado dos enormes problemas autárquicos com que se debatia a Câmara Municipal, ou então por ver as portas e janelas da antiga prisão fechadas, deduziu que a minha reunião já teria terminado e eu já tivesse regressado (não haviam telemóveis), veio para Alvalade, deixando-me em Santiago.

Valeu-me então, a boa vontade do jovem amigo  José Pereira, de São Bartolomeu da Serra, hoje Director Financeiro da Câmara Municipal de Santiago do Cacém, que me veio trazer a Alvalade, na sua viatura.

Esta uma das muitas peripécias que preencheram a minha vida de jovem, como a de tantos outros que se empenharam com a força da sua juventude para que fossem criadas melhores condições de vida para as populações . Só que nesta, tive a felicidade de a viver na companhia dum grande Homem, que ainda hoje comigo colabora na vida institucional. Que seja por muitos anos, bom amigo José Raposo Nobre.

domingo, 15 de janeiro de 2012

AS NOSSAS TRADIÇÕES -As Janeiras - Os contratos de Páscoa


Já aqui mencionei uma das tradições que muito me marcaram na infância – o cante das janeiras .  Hoje em Alvalade e anualmente por minha iniciativa e com a participação dos meus queridos utentes do Centro de Dia, alguns já com muitas dificuldades de mobilidade, sai um grupo à rua entoando não as janeiras, mas sim os Reis. A melodia de um e outro cante é idêntica, apenas é alterada a letra.
O meu desejo e daqui faço um apelo aos que se dedicam inteiramente à educação das crianças, sejam os pais e familiares. sejam os professores, para que   incentivem os vossos educandos a que participem nestas actividades tradicionais. Se tal acontecesse não se perderiam estes valores, porque a tradição é a memória dum povo  e cabe-nos a todos contribuir com o nosso empenho para que muitas das tradições não se extingam por completo. Continuo a pensar que a escola seria de certeza o melhor percurso da vida para que estas memórias continuassem a existir.
Vejamos as actividades que felizmente algumas escolas promovem e que tem este fim. Lembremo-nos do Carnaval, com os cortejos trapalhões que se realizam um pouco por todo o lado. Um tanto abasileirado, não sendo difícil incluir quadros tradicionais portugueses nestas iniciativas. Cito como exemplo a Dança de Carnaval, ou como também lhe chamam a Dança das fitas. O Centro de Dia de Alvalade realizou esta actividade durante alguns anos, mas dado que a sua execução é extremamente difícil para pessoas com idade avançada, certamente os jovens conseguiriam ( e estamos certos) com agrado, ensaiarem e apresentarem esta tradição carnavalesca.
Na Páscoa, tenho sempre presente os Contratos de Páscoa. E não tenho dúvidas de que os nossos jovens sensibilizados muito gostariam de participar em mais esta tradição.

Os “Contratos de Páscoa”

é uma das tradições alvaladenses, de que se fala, mas que infelizmente deixou de existir. Se houvesse possibilidade de sensibilizar os nossos jovens para o retomar desta tradição, seria importante. Mas não só os nossos jovens. As pessoas adultas poderão igualmente participar neste tipo de iniciativa, que certamente daria nova motivação à população, neste momento absorvida pelas dificuldades que nos são impostas e que tendem a contribuir para que se fique parado no tempo sem expectativas nem anseios.
O contrato era efectuado entre duas pessoas e em jogo estava um pacote de amêndoas ( antigamente as amêndoas eram vendidas a peso ).
No momento do Contrato os dois contraentes,  davam as mãos direitas dizendo:
“ Contrato, Contrato, Contrato fazemos – No dia de Páscoa oferecemos”.
Estava então celebrado o contrato verbal.
No dia de Páscoa, os dois contraentes tentavam encontrar-se. Corriam as ruas, escondiam-se . O primeiro que avistasse o outro, dizia-lhe – “Oferece e Reza”
E estavam ganhas as amêndoas, combinadas no dia da efectivação do Contrato.
Tornava-se interessante, ver pessoas, jovens e adultas, praticarem um autêntico jogo do “esconde e aparece”.
Seria muito interessante , que, na próxima Páscoa esta nossa tradição fosse relembrada e praticada. Porque não?




domingo, 15 de maio de 2011

PASSADO RECENTE- A Minha Pergrinação a pé a Fatima-2003--2

A MINHA PEREGRINAÇÃO A FÁTIMA, A PÉ (2)

DE S.MARTINHO DE CASEBRES ATÉ CANHA


Seguiu então o grupo de peregrinos, de S. Martinho de Casebres, até Canha, passando por Vendas Novas. Cabe aqui referir que a peregrinação estava bem organizada. Carros de apoio, entre os quais uma carrinha da Casa do Povo de Alvalade, conduzida pelo dirigente Arnaldo Borges. De tantos em tantos quilómetros, pessoal da equipa de apoio, aguardava-nos com agua e distribuição de rebuçados.

Alguns quilómetros percorridos, a nossa companheira Regina Borges, foi acometida de um problema que também a mim, dias mais tarde me havia de acontecer. Estava previsto, a organização havia-nos dito, que durante a caminhada poderíamos ser afectados psicologicamente. E foi o que se passou com a Gina, que não parava de chorar, sem que alguém soubesse a razão de tal facto. Parámos, em determinada altura, para descanso e comermos algumas peças de fruta. Aí, todos nós, demos uma ajuda à Gina, a ponto de, começar a animar-se e no arranque, de novo na estrada, a nossa companheira lá seguiu ainda com maior ânimo, levando consigo o estandarte da peregrinação.

De acrescentar, que durante a caminhada, havia tempo para tudo. Tempo para rezar, tempo para reflectir, no mais completo silêncio, quando se ouviam apenas o bater dos bordões no alcatrão da estrada, tempo para cantar e até para contar anedotas. Em cada paragem, os peregrinos massajavam as pernas com cremes apropriados, descansavam um pouco e depois um tanto ultrapassado o cansaço, lá seguiam para nova jornada.

Atravessámos Vendas Novas e aí, veio-me à memória os tempos que ali passei, no serviço militar. Ali ingressei em 1970, antes de ser mobilizado para a Guiné. A seu tempo relatarei também esses tempos que fazem parte das minhas memórias.



Vista da cidade de Vendas Novas

Depois de Vendas Novas, já ao fim do dia aproximava-nos completamente estafados e com os pés já enfeitados de algumas bolhas, do nosso destino – a Vila de Canha.


Quartel dos Bombeiros V. de Canha

Aí chegados dirigimo-nos ao quartel dos Bombeiros Voluntários, que nos apoiaram, no alojamento. Após o tão desejado banho, dirigimo-nos às instalações da santa Casa da Misericórdia que nos forneceu um reconfortante jantar. Regressados ao quartel , fomos surpreendidos pela presença de um grupo de bombeiros que voluntariamente se dispôs a dar-nos massagens que em muito ajudaram o grupo a prosseguir no dia seguinte.

DE CANHA ATÉ CORUCHE

E, o dia seguinte, igualmente pelas seis horas da manhã, tudo a postos para mais uma etapa e esta bastante longa. Iríamos continuar pelo Ribatejo, de Canha até Coruche, aonde iríamos pernoitar, na Santa Casa da Misericórdia.

E a melhor forma de iniciarmos esta caminhada, foi com muita devoção, enquanto andávamos rezámos o terço. Cada qual pensou nesse momento nos seus problemas, sendo que uma das formas de os ultrapassar residia precisamente nesta devoção, nesta oração, nos cânticos que se faziam ouvir no silêncio dos campos, interrompido apenas com a passagem de viaturas, que nos saudavam com o som estridente dos veículos,

Durante o percurso, fizemos uma paragem debaixo das arvores e foi celebrada a Eucaristia, pelo padre Silveira. Depois, mais animados e confortados, o grupo seguiu a caminho de Coruche. E foi a alguns quilómetros, que também eu, fui acometido de uma crise psicológica, relacionada talvez com a saudade dos familiares, que felizmente ultrapassei e me deu forças para continuar.

E eis-nos chegados a Coruche mais propriamente às instalações da Santa Casa da Misericórdia, situadas numa antiga quinta na várzea fronteira a Coruche.

A Mesa da Misericórdia, havia-nos proporcionado alojamento, num sótão, onde tinham sido espalhados colchões. Um verdadeiro hotel para os caminhantes que nessa altura acusavam já algum cansaço. Após a chegada, realizou-se uma Missa na capela, celebrada por um cónego cujo nome já não recordo. Seguiu-se um jantar servido no refeitório da instituição, após o que recolhemos aos “aposentos” que nos tinham sido reservados.

DE CORUCHE A ALMEIRIM

No dia seguinte, o 9º da caminhada, teríamos de percorrer o caminho de Coruche até Almeirim. Ao nascer do sol o grupo de peregrinos , saiu das instalações da Misericórdia, depois de uma oração conjunta onde agradecemos e desejámos as bênçãos de Deus e de N. S. de Fátima para quem tão bem nos havia recebido – a Santa Casa da Misericórdia de Coruche. Atravessámos a linda Coruche, subindo a encosta até Santo Antonino e daí em direcção a Almeirim, passando por diversas localidades cujos habitantes nos recebiam com muito carinho. De realçar que foi durante este percurso, que avistámos um simbolo, que nos transmitiu uma força interior extraordinária e que nos deu ânimo redobrado - num cruzamento de estradas, uma placa indicava FATIMA. Verdadeira alegria.

À chegada a Almeirim, um incidente marcou a nossa viagem. Um dos nossos companheiros, sentiu-se mal e tivemos de chamar uma ambulância que o transportou ao hospital. Regressou mais tarde restabelecido, mas, creio que não teve condições de saúde para caminhar, tendo feito o percurso num dos carros de apoio. Aqui, ficámos hospedados na Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Almeirim, que igualmente se esmerou na recepção aos peregrinos de Fátima.

DE ALMEIRIM À GOLEGÃ

Dia seguinte, percurso de Almeirim à Golegã, novamente os momentos de oração, de recolhimento, mas também os habituais momentos de alegria partilhada das mais diversas formas. A passagem pelo dique dos vinte foi inesquecível, embora um tanto perigosa, pois a estrada era estreita e as bermas por onde caminhávamos exigia redobrados cuidados. Também na Golegã foi a Santa Casa da Misericórdia quem nos acolheu. Aqui tivemos o grato prazer de ter à nossa espera, o alvaladense José dos Reis com sua família, que de uma certa forma ajudaram a mitigar as já intensas saudades dos familiares. No dia seguinte esperava-nos a etapa até Torres Novas, penúltima até atingirmos o nosso objectivo – o Santuário de Fátima.

(continua)

sábado, 14 de maio de 2011

PASSADO RECENTE-A mimnha Peregrinação a Pé a Fatima-2003 --1

 
















A MINHA PEREGRINAÇÃO A FÁTIMA, A PÉ (1)


Hoje, noite de 12 para 13 de Maio de 2011, resolvi transmitir aqui, algo de que nunca falei e que se prende com a peregrinação a pé, que fiz em 2003, desde a minha Vila – Alvalade, até Fátima.

Em 2002, enquanto decorriam as obras, muito atribuladas, da construção do novo Centro de Dia de Alvalade, em determinado momento e face aos inúmeros problemas que diariamente se deparavam aos dirigentes da Casa do Povo de Alvalade, relacionados com a construção, em plena obra, encontrando-me acompanhado da senhora presidente do Conselho Fiscal, Dª Maria Regina Ferreira Borges, momentaneamente exaltei-me e gritei : “se me vejo livre disto, eu vou a pé a Fátima”, ao que a referida senhora, batendo-me no ombro disse “ e eu vou consigo”! Claro que foi um desabafo, pois sabendo as dificuldades que tal acto acarretava, talvez tivesse pensado mais um pouco.

Passou-se o ano de 2002 e em 2003, aproximava-se o momento da conclusão desta obra que veio engrandecer Alvalade e os alvaladenses. Por intermédio de alguém, tive conhecimento de que a partir de Alcácer do Sal, se estava a planear uma ida a Fátima a pé. Assim que me foi possível, desloquei-me àquela localidade e falei com o Pároco, (creio padre Silveira) senhor já muito idoso , e que ao tempo em que escrevo esta crónica já partiu de entre nós. A partir dele fui colocado em contacto com duas senhoras, uma a gerente do restaurante Boa Viagem (Dª Isabel)e na Câmara de Grândola(Arq. Maria João), principais organizadoras da caminhada. Imensamente simpáticas logo me inscreveram e deram pormenores sobre a “aventura”.

Regressado a Alvalade, contactei o pároco, padre Paulo do Carmo, a quem coloquei ao corrente das minhas intenções, tendo o cuidado de referir que não o faria para pagamento de qualquer promessa, dado que para mim, esse tipo de promessas constituíam chantagem.
O pároco na primeira oportunidade deve ter referido o facto e logo de imediato, se me juntaram, mais cinco senhoras, entre as quais a já citada presidente do Conselho Fiscal da Casa do Povo, Regina Borges. As restantes foram – Graça Mateus, Mariana Loução, Maria José Aires, Mariana Lima, Eugénia Godinho e naturalmente eu Luís Silva. No carro de apoio, acompanhou-nos o marido de Dª Regina, Arnaldo Borges, igualmente dirigente da instituição. Foi este o primeiro grupo de peregrinos a pé a Fátima, a partir da freguesia de Alvalade-Alentejo.

Como tínhamos de nos juntar aos peregrinos de Alcácer do Sal, daí a dias, e já quase em Fátima a um grupo de mais de 800 peregrinos da Arquidiocese de Évora, tivemos que partir de Alvalade alguns dias antes. A partida, foi feita da Praça D. Manuel I, depois de, em cerimónia religiosa, na Matriz, os bordões de peregrinos que nos iriam acompanhar, terem sido benzidos pelo pároco, o qual nos ofereceu a todos um rosário que nos acompanhou.
A partida, na Praça, foi pelas 2 horas da tarde, debaixo de uma temperatura nada animadora e acompanhada de muitas pessoas que solidárias quiseram dizer adeus e desejar-nos felicidades, acompanhando-nos muitas até à Mimosa.

Esta primeira etapa seria de poucos quilómetros, até à aldeia de Azinheira de Barros, onde ficaríamos sob a guarida do Centro de Dia, sendo um dos dirigentes o senhor António Ruas, hoje presidente da Junta de Freguesia daquela localidade. Apesar de ser pequena a distância, quando o grupo chegou à fonte de Ermidas , já era visível o cansaço. Após breve descanso rumámos a Azinheira de Barros, onde após a chegada fomos confortados com um banho refrescante e um jantar maravilhoso. Após a dormida, nos sacos cama, no salão de convívio, no dia seguinte, pelas seis horas da manhã, após o pequeno almoço, rumámos a Grândola, cerca de 15 quilómetros. Aí chegados fomos alojados nas instalações da Santa Casa da Misericórdia, colocadas a disposição do grupo pelo senhor Provedor Horácio Carvalho, que depois do jantar, nos acompanhou na recitação do terço.

Igreja de N. S. dos Mártires - Alcácer do Sal
Terceiro dia , percurso entre Grândola e Alcácer do Sal. Durante o caminho a chuva, em pequena quantidade veio fazer-nos companhia. Também aqui valeu-nos a Santa Casa da Misericórdia que nos alimentou e deu alojamento. No quarto dia foi de descanso e preparação para as diversas etapas, até Fátima. No quinto dia, foi a partida de Alcácer do Sal, na companhia de mais cerca de 50 peregrinos de todas as idades. Foi emotiva esta partida. Feita a partir da Igreja da Senhora dos Milagres, (local por onde segundo se diz, passavam os peregrinos que do sul, se deslocavam a Santiago de Compostela), após cerimónia religiosa, na qual para alem dos párocos de Alcácer, se encontrava igualmente o pároco de Alvalade.

Seguimos então pela estrada que conduz a Lisboa e mais adiante, seguimos em direcção da localidade de Casebres ou mais propriamente de S. Martinho de Casebres, onde ficámos alojados no edifício do Centro de Saúde local. Numa dependência os homens, em sacos cama, noutra as mulheres. Instalações sanitárias eram escassas, pelo que muitos optavam por se servirem do ambiente da natureza, para as necessidades. Além disso, era noite e o escuro ajudava. Foi então que aconteceu o primeiro episódio que contribuiu para a boa disposição do grupo e que merece ser relatado.

Em Casebres, como na maioria das localidades do interior, a falta de assistência médica, era (e é infelizmente, cada vez mais) notória. Pelo que para terem consulta, os habitantes tinham de ir para a porta do Posto Médico, a fim de conseguirem atendimento, bastante cedo, neste caso, pelas 5 horas da manhã. Uma senhora já idosa, assim fez e aí vai ela a caminho da porta do Posto Médico, a fim de conseguir a consulta. Só que nessa altura, uma das peregrinas resolveu sair do edifício a fim de fazer uma “visita” à natureza e assim satisfazer as suas necessidades fisiológicas.

Quando abriu a porta do exterior, em camisa de dormir, a anciã que esperava cá fora, desconhecendo que o edifício estava ocupado pelo peregrinos, desatou a correr e a gritar, que estavam a assaltar o Posto Médico. Com o alvoroço, outros peregrinos acordaram e juntamente com alguns vizinhos, conseguiram acalmar a senhora, contando-lhe a situação. Naturalmente que nesse dia, a alvorada foi mais cedo.

E, após o pequeno almoço, o grupo retomou o caminho, até Canha, passando por Vendas Novas.

(Continua) --