Em certa altura passei a acompanhar na minha condição de
aprendiz, um operário chamado Moreira, que era natural de Montes Juntos –
Alandroal, mas que há anos vivia no Laranjeiro, aos navios da marinha de guerra.
Para quem não conhece
o Arsenal do Alfeite, são os estaleiros navais que dão apoio na manutenção dos
navios da nossa armada. O Moreira ia varias vezes ao navios ancorados, para
proceder a reparações, muitas vezes relacionadas com as bombas de agua.
Agradou-me e jamais esquecerei as “visitas” que ambos fazíamos a bordo do navio
– escola Sagres.
Mais tarde, fui transferido para uma outra secção onde
aperfeiçoei os meus conhecimentos, embora mantendo a categoria profissional de
operário. Tratava-se da Secção de Normalização e Classificação de Materiais. Aí
desenhavam-se peças que depois seriam fabricadas nas oficinas, estudavam-se as
NEP ( normas portuguesas). Era um trabalho mais aliciante, longe do ruído da
maquinaria e naturalmente mais higiénico. Lembro-me que a secção era chefiada
por um engenheiro cujo nome não recordo e por um funcionário administrativo
cujo nome era Costa. O Costa era um amigo e camarada, e através dele me iniciei
na vida político-partidária . Primeiramente no MDP/CDE e depois quando este
Movimento passou a partido politico, inscrevi-me no Partido Comunista
Português durante algum tempo. O Costa estava sempre disponível para transmitir-me os ensinamentos
de que necessitava. Estudava à noite em Lisboa, na Faculdade de Economia E,
ficou-me gravado o dia em que pela manhã no inicio da jornada diária de
trabalho, o Costa entrou na secção, depois de ter realizado as provas de exame na Faculdade, que lhe
concederam a licenciatura naquela área.
Na secção éramos cerca de dez funcionários e nessa manhã,
perfilados logo que o Costa entrou dissemos em uníssono:
- Bom dia senhor Doutor!
E o Costa respondeu de forma agressiva, nada satisfeito com o
título académico a que tinha direito:
- Senhor Doutor o c….
Era assim o grande companheiro e ao mesmo tempo bom camarada -
o Costa!
Foi ele quem politicamente me instruiu, quem projectou mais
longe os meus escassos conhecimentos da realidade que do mundo actual, onde uns
têm tudo e outros quase nada! A minha eterna gratidão ao grande amigo e
companheiro de ideologia, o Costa!